A situação – mais do que bem diagnosticada – de descontemporaneidade (ou meras descontemporanização radical) absoluta dos poetas (ou da poesia) brasileiros, após a geração 45, resultou na invenção Poesia Absoluta.
CANTO CRUCIAL (FRAGMENTOS DE NOVO KAOS VITAL
Tonéis de tristeza derramando-se
sobre olhos minerais atiçados da sede da visão
e corroídos do rumor bursátil da tenda citadina
onde impera memória de leilões lascivos
SENTIDO DA VIDA
Todo sentido se perde e regressa ao nada
o edifício de palavras que bálsamo
da rima amacia e confina
HÁS
Há melindres, no codiário do acaso?
Há madames bêbadas de absintos e sábados
há comendas de dilúvios e tâmaras bastardas brotando
TER E NÃO TER
Nenhum dos meus sonhos morrerá
não sei em que sonolenta pátria vivem
nem sei que país sem vigília os acolheu
À SOMBRA PLATÔNICA DA ESPADA
Do rosto infatigável dos sábados
quando chega a febre do corpo que almejo
quando peso aziago e inapelável
DE CRISTO A PÃ
Gólgota, lenho da dor, gerou a cruz
cujo destino era o Calvário ou o Amor?
Eis a última pedra, o sopro ósseo
POR QUÊ? VCA
Viso ao desassossego extremo, rondo
o precipício da alma, invento auras e dores
testemunho súplicas e reflexos cegos, não
ÁGUAS DO GOZO
De pedra e espuma a vida.
De efêmeras e macias volúpias o ser.
De clamor em ruína
MÍNIMO HUMANO
Entre a manada urbana de autos
e o rebanho de cólera metropolitana
diviso sinal transitório