De príncipes noite sonda insônia anual
espreita escombros azuis da pálpebra que descamba
sobre sono que não vela o olho.
Insônia de príncipe é indestrutiva
macia, urgente, surreal.
Noite apregoa máscaras
é caudalosa, imprecisa, tributária
da vigília estendida sobre olhos
como chuva na calçada
como sílabas molhadas
do texto Moby Dick lido
sobre olhos furtivos que se abrem
sobre descalabros de sombras, dilúvio
de véu sobre poço de claridade sacrílega.
Noite alicerces úmidos sarça
riste sobre pálpebra sonâmbula
pelo insone destroçada.
Ulcera gargantas diagonais nuas
istmos, ângulos razias de sombra do céu sem sol
madrugadas escala possessivamente
músculos do sono faz lassos
desperta halteres de sua vigília férrea
labirintos esgana fábrica da noite áqüea
do rosto das vítimas trilhos pálidos, jaças
filetes púrpuros, raios encarnados lança
dos olhares licores facínoras arranca
escava sulcos da prole escura da lua
que na rua deposita leitosa luz.
Nada impede progresso da insônia
nada excita seus edifícios insanos
com muralhas azulejadas de olhos
insones abismos incita
como resposta ao sono lento e amplo
noite não desova vigílias
as preserva, não as amacia
culturas com lavor rural porfia
dor de vigília despetala, seu cálice
oferece à insônia indomável
como brinde à eternidade da noite
a sua duração inconcebível
mas destra, inconciliável com cílios
de lamentos como uivos de olhos.