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Sex, Maio

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Vital Correa de Araújo 

Jacques Ribemboim, presidente da CIVITATE, entidade com sede na Rua Velha que se dedica a recuperar e preservar a riqueza urbana daquela área depois da Ponte Velha, teve a idéia mais do que brilhante de desmistificar a velhice – ou idosidade,

como chamo – recolhendo depoimentos, relatos, contos, poemas, narrativas sobre a “boa idade”, vista sob ângulo vário, de modo a estraçalhar o tabu que a cerca e destituí-la dos aspectos negativos e das características de fraqueza e desambição de que a acoimam velhos e jovens. Já no prelo, o livro “O fim da velhice” representará um documento contundente, literário, esclarecedor e definitivo sobre as benesses, os recursos, as “facilidades” da época “após os sessenta”.

O encontro literário Quarta-às-Quatro, realizados na União Brasileira de Escritores, em Casa Forte, já em sua 158ª edição, contempla a presença de jovens dos 13 aos 90 anos, e tem reduzido a zero casos de depressão e angústia entre os maiores de 70, o que comprova a relação positiva ambiente de criação literária e melhoria dos sintomas da velhice, ganhando o evento o nome de UBETERAPIA, batismo do historiador Geraldo Ferraz.

Alcanço os 60, declarando que estou em paz comigo mesmo e com meus compromissos. Paguei as dívidas com o amor (Ivonilde as afiançou), as da ambição, quitei-as muitas, os ônus da paixão já não me pesam tanto, mas os carrego (satisfeito?): as paixões vêm do nada e ficam. A maior de todas é a literária, a que incide sobre o livro e a escrita.

Vivo comigo mesmo, e, com Cícero, afirmo: se a velhice tiver algum pábulo de criação e estudo literários nada é mais jucundo que os ócios da alta idade.

O velho também se banqueteia, as iguarias são de outras (e insuspeitadas e estrepitosas) dimensões. A bendita  moderação nos livra dos desastres da embriaguês, da indigestão, do cansaço físico e da insônia minuciosa.

Se é preciso conceder algo ao prazer – que Platão chamava de engodo dos males – alguns repastos lascivos restam, substitutos dos banquetes imoderados.

Portanto, os exercícios do espírito estão reservados a nós, que não desprezamos o prazer pela razão e sabedoria. A alma precisa de halteres, também.

Com a idade, se ficamos menos atléticos, temos a obrigação de sermos mais filosóficos.

E o êxtase – essa coisa brevíssima, esse relâmpago dos sentidos, e o repetido gozo sexual ou pequena morte – como fica para o velho?

Respondo – e encerro – com Cícero, o mestre: “A volúpia embaraça o julgamento, é inimiga da razão, rivaliza com o transitório, emula com o superficial e não tem qualquer comércio com a virtude”. Se a volúpia ofusca os olhos da mente, a velhice cura-se desse imbróglio e impele-nos a ver o melhor.

A catarse verdadeira é reservada aos que não renunciam ao poder do amor à literatura.

 

 

Vital Correa de Araújo

é poeta e Ex-Presidente da UBE

 

Murilo Gun

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