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Dom, Maio

destaques
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Existe um mosteiro lendário

(mítico, bento, alto

maior, mais leve e vivo que pássaro

mais mágico, douto, vasto, febril, Xanadú )

num mais lendário ainda Agreste de Pernambuco

muito, muito além do poente, lá

onde o sol escava

os primeiros sulcos

(e a noite o elevado berço)

para iluminação da alma

do homem e do mundo

esclarecimento dos seres e coisas de Deus.

 

Ele habita sítio humano (geografia afetiva)

quase coração, quase rosa e alicerça

pedra do perdão.

 

 

 

 

 

 

Depois da maior montanha

do confim pernambucano do agreste

(entre sais meridionais

e brancas seivas angelicais)

ele se posta altaneiro e varonil

dum vale indelével

e se alevanta como sol ou águia

e benze quem o devassa

e prende quem tenha pouca alma

para libertar o ser pequeno

da angústia da existência menor doando-lhe

a essência Dele.

E assim libertar-se por dentro.

 

(Como se desentranhando de uma pedra

bendito vulto adverte

com seu cajado o mundo).

 

 

 

É o vale indelével

é o dentro do planalto onde

 

orvalho é branco como anjo e afaga

a face crua de cada humano

 

onde rosas alimentam borboletas

com néctar irmão da ambrosia

 

onde moinhos de manás não cessam

nem se aposenta o perdão

 

onde ervas são graves

e sonhos apetecíveis

 

onde prélios adormecem sobre louros

e homens não mais se enciúmam

 

onde cigarras lixam o vento e pinheiros alongam

músculos como os eucaliptos.

 

 

Do alto desse edifício

de fervor e pensamento

 

do cerne que medita

da hora que canta

 

dos ofícios e das matinas

pássaros oram

 

em cântaros gregorianos

e acendem ascese nos olhos dos homens.

 

É lá onde

cada onde não se esconde

 

é lá onde

cada quando já é ontem.

 

E é onde quando o homem sabe

quando onde começa o mundo segue a vida.

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Murilo Gun

REVISTAS E JORNAIS