Existe um mosteiro lendário
(mítico, bento, alto
maior, mais leve e vivo que pássaro
mais mágico, douto, vasto, febril, Xanadú )
num mais lendário ainda Agreste de Pernambuco
muito, muito além do poente, lá
onde o sol escava
os primeiros sulcos
(e a noite o elevado berço)
para iluminação da alma
do homem e do mundo
esclarecimento dos seres e coisas de Deus.
Ele habita sítio humano (geografia afetiva)
quase coração, quase rosa e alicerça
pedra do perdão.
Depois da maior montanha
do confim pernambucano do agreste
(entre sais meridionais
e brancas seivas angelicais)
ele se posta altaneiro e varonil
dum vale indelével
e se alevanta como sol ou águia
e benze quem o devassa
e prende quem tenha pouca alma
para libertar o ser pequeno
da angústia da existência menor doando-lhe
a essência Dele.
E assim libertar-se por dentro.
(Como se desentranhando de uma pedra
bendito vulto adverte
com seu cajado o mundo).
É o vale indelével
é o dentro do planalto onde
orvalho é branco como anjo e afaga
a face crua de cada humano
onde rosas alimentam borboletas
com néctar irmão da ambrosia
onde moinhos de manás não cessam
nem se aposenta o perdão
onde ervas são graves
e sonhos apetecíveis
onde prélios adormecem sobre louros
e homens não mais se enciúmam
onde cigarras lixam o vento e pinheiros alongam
músculos como os eucaliptos.
Do alto desse edifício
de fervor e pensamento
do cerne que medita
da hora que canta
dos ofícios e das matinas
pássaros oram
em cântaros gregorianos
e acendem ascese nos olhos dos homens.
É lá onde
cada onde não se esconde
é lá onde
cada quando já é ontem.
E é onde quando o homem sabe
quando onde começa o mundo segue a vida.
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