Como palavra enterrada
no coração do tomo ressurgindo
do centro do hino
em meio à página.
Como palavra submersa na sombra
em anônimo lodo alojada
desprezada na sarjeta dos objetos árduos
entre moedas do crepúsculo dissipada
de piedosa loucura encarnada
envolta em túnicas que mácula alinhava.
Como palavra crescendo dos lábios da página
ferida de crueldades inatas
de insondáveis angústias maculada
acorrentada de vasta náusea
de profanações mensais acossada.
Como palavra vinda da comarca
tenebrosa do abismo
como palavra vinda da febre
ou do fedor de chefatura dos subúrbios
como palavra vinda do etéreo
útero da morte e de seu brutal silêncio
como palavra transportada arduamente
por bocas esmagada
revolvida como rosário dos dedos
mastigada como melíflua abelha
pálida como vozes moribundas
encardida como rosa fenecendo
ou lírio sangrando.
Como palavra abeirando precipício da lauda
como palavra aberta dos alicerces desertos
como palavra perdida nos trevos da desdita
como palavra enterrada nas gargantas do grito
(como palavra aborto renegada).
Como palavra que flua da calcinada órbita de bois
(que o trabalho da aridez proclama
da entranha da caatinga troféu árido e claro)
como palavra escavada da alma da relva
(do vidro das dores refulgindo vivos temores)
como palavra que frua do cio da rosa
como palavra que brote dum buquê de sal.
Como palavra que flore do pranto da pedra.
Como palavra encordoada com o fio da página.
Como palavra estampada na folha do rosto
do íntimo do tempo rebelada.
Como a palavra de barro do poema.
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