03
Dom, Ago

destaques
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Luzes já amorteciam dos olhos

a monte já iludia a luz

como seu troféu de sombra dura

o movente naipe das dunas

também móveis e afinadas

pelo vento leste (nu vórtice de ar)

embaralhava o tempo por dias

perdidos de navegação contínua

pelos porões de pedra estéril

de Cabo Verde e pelas

reais miragens das Canárias

e Ilhas Madeira.

Lembro o último vinho numa cantina alta.

Deixei o éden Funchal

sob peso imortal do pecado da inveja.

 

Antes, toquei a casa

natal de Cristiano Ronaldo

o luso messias da pelota.

Os balouçantes candelabros de antes

já não cintilavam tanto

sua luz trêmula perdia

o velho fulgor dantanho

o coração despalpitava

já não se iludia de nada

síncopes descompassadas

eflúvios lentos primos

badalares frígidos

do sino de carne do peito indiciavam

eitos findos da jornada prenhe de desvãos

dura, vital, sonâmbula.

Ou mesmo só vândala.

 

Atlântico périplo

deslocava a alma

à borda da Mauritânia

lia Cioran sem parar

com vodka russa na terceira piscina

o incessante Eliot

pousado no oásis do convés

exultava ante intemporal mar

enquanto peixes voadores

o escoltavam ao lado

de gaivotas surfando

nas ondas poderosas

do velho ATLÂNTICO.

(a meus pés).

E boa prostituta me louvou a noite

no cassino e na boate. (Bote da alma).

 

Nisso a noite postou-se

na proa deixando a ré a luz

águas negras barulhentas

a música da nave esmaeciam

aos salões de dança subiam

sambas revolutos da água

tangos espumosos e frevos

da proa veloz cortando em fatias

líquida e duradoura pele do mar.

 

O êxtase não me abandonava

enquanto reluzisse o uísque

balouçante como candelabro célico

no copo meu céu líquido áureo.

 

Das estrelas noturnas pingavam

diagramas nos olhos da vida.

 

Pirâmides de palavras

ergui a estrelas.

A escrita do céu recolhi

do convés à escuta da treva de letra

o reflexo do verso na água

o lampejo do peixe espada

o levitar da nave intensa

ao capelo do mar de maio

tudo me acendia verbo

vorazmente vital.

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Murilo Gun

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