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Dom, Jun

destaques
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Escrevo para êxtase de toda vacuidade. 

As grandes erosões não são superficiais. 

São profundas como o arado descortinando a terra.

 

Erosões sulcam rosto, abeiram cova. 

As irrisões são fecundas. 

Adube a horta do temor. Não a despreze.

 

O fundo do ser é como o do mar. Inatingíveis. 

Ao sortilégio da solidão. 

Perse codifica o vago e o impalpável amplia.

  

Ele retira a palavra do torpor verbal

liberta-a da prisão do significado.

 

O vazio para mim é um mar.

 

Se os visionários também apodrecem

o que resta?

 

Na desolação daquele julho ela

era uma rosa imperturbável.

 

Prefiro às vezes a podridão

à esperança comercial

ou à vitória bursátil.

 

A pura podridão é sublime e ambígua.

 

O podre é um estado preciso da matéria.

O problema é que até espíritos apodrecem.

Terrencialmente, às vezes.

 

Os ascetismos fracassam todos

devido à incredulidade ascética

e ao espasmo.

Nenhum vilipêndio arquitetara o amor

somente um avulso ser dizendo-se adeus

o apagara de seus arquivos malsãos.

 

Desista de sua alma (leitora apta)

enquanto é tempo. Enquanto há tempo.

Resolva o corpo na corrupção

alma dá trabalho, viciada em ressurreição

só lhes trará (leitora soberba)

agruras pós-túmulo (ou post-vitam!).

 

A crispação vira escrita.

 

O desespero não dá poema. 

O alívio arruína.

 

Elãs são de palha cinza.

 

Nunca apazigue o delírio, incite-o

com vara curta ou óleo virgem.

 

As diarréias são oportunidades de criação.

Nunca transforme invectiva em bofetada.

 

Seja homem ou mulher de paz expressa.

Murilo Gun

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