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Dom, Jun

destaques
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Sou áspero, duro, infinito como o cacto

lixa árida, graveto cônico, árduo e cavo tronco

sou rural e a canção da vaca tange a minha rede

solitário e plano como caatinga ou orvalho

bando de garças descuidado desvairado ombro acolhe

sou ser entranhado na manhã e noturno

sou silêncio, tempestade e voz de pedra surda

luz do cardo ilumina-me a mão

a bordo da alba sigo

velejando por estrela de greda

da órbita branca inóspita de vândalo gado

entre carcaças das vacas do sertão e silêncio do olho.

 

Os ossos do futuro vejo

e a verdade pétrea fincados

na geometria dos búzios do capim

clavículas de pássaros vejo (o esqueleto do voo abro)

junto à abóbada dos crânios

que estrela crestou.

 

Da varanda infinita de minha de minha choça toco

as ventas surdas do universo

e os chifres de boi do tempo

domo com a mão

e o olhar pétreo da lua tropical finco

com esmero ótico

e elegância nua.

Murilo Gun

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