02
Sáb, Ago

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Prego a dúvida absoluta, confio mais no corpo do que na alma, exalto a perdição, o desvia, a unção do sêmen, tenho fé no prazer, Hedônico ou dionisíaco prego o futuro do corpo, a égide do gozo puro, absoluto como a dúvida de ser num mundo cão uma parte menor,

fração moral, dízima parda, perto da curva cada vez mais desapaixonado da vida com alma untuosa. Prego que o caminho mais curto entre dois pontos na bola do mundo é a curva da morte (que Gauss algebrou hebraicamente) e que a atração humana tem seus dias contados, um a menos a cada hora ou mais. As camisas de força estão na moda, quaisquer que sejam raça, credo, sexo, sem mínimas (ou máximas) distinções, as perversões são ímpares e estáveis, e por que não eternas?,se o pervertido ganha o infinito prazer de ser.

É preciso (friso bem ao leitor distante) encarar de frente (e de trás), de cócoras e de joelhos, de pleno e completo, a verdade do corpo... e não dissimulá-la com histórias de alma, com meras estratégias salvíficas e endereços ilusórios do céu, quando a terra está aberta (de falo, coxa, cona, cova) a nós. Não civilizemos a carne, que é como pasteurizá-la e indicar o caminho do desastre. Preservemos o instinto contra a civilização, que intenta desativá-lo, deletando suas qualidades inatas. A moral humana é como uma folha seca que o vento do tempo leva a qualquer lugar, quando queira... ou varrê-la para sempre da superfície (ou pele) da alma. Se para Sade o prazer é agressão (o que aceitamos – eu e meu leitor, que somos transgressores de carteirinha, ante os óbices e ângulos falsos e lassos e fúteis e físicos da vida), se para Freud o prazer é inversão, caos, culpa, encrenca, distúrbio, algo tipo pecado original ou perversão banal, para mim o prazer está incluído na paixão, no ato de ser todo ardor e volúpia solta, sem assim precisar viver entre os polos ilusos e efêmeros e perversos da repressão ou sublimação. É só não reduzir as coisas, o corpo, o mundo, a vida à alma, ser a exceção que salva, adotar terapêuticas niilistas e cultivar com esmero, apuro, mas sem exacerbação o pessimismo vital que nos faça mais realistas. O niilismo, e o vazio ou indolor, como o éter, está em tudo que gire em torno da paixão humana sem exceção. E a perversão é a primeira paixão (ou seu instrumento mais hábil, vital, puro). Abaixo o mito da igualdade dos corpos ou sua mentira, a lenda da possessão da carne pela alma, do espiritual como princípio constitutivo do ser. O ser é o corpo, sempre vário, sempre sempre puro como hieróglifo ou quimera. E o tal sopro escuro? O sopro é de barro, nada mais, nada demais.  

 

Murilo Gun

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