Van Google e suas telas, sítios, espúrios cristais
girassóis de pixels brotando das glebas do brilho
futuro aprisionado em monitores potentes
hagadês e hagadês deslumbrados
hipnóticas centelhas escavando olhos
do interior das madrugadas vivas no vídeo.
Insetos oscilam entre dois cadáveres de orquídeas
e três ossos de baunilha.
Cálices noturnos enchem-se de puro vinho de treva
vindo da uva dos olhos enquanto lábios deliram
e a sede se refugia nos alpendres do rosto
(e dos odres da dor brotam sorrisos póstumos)
enquanto pustemas assolam os últimos corações.
Nesse expresso esse de assassínios
valsas dolentes rodopeiam
ocultando vozes.
Favos e rosas irmãos morrerão
de ira floral indefectiva.
Às mandíbulas das cítaras entrego
o som carnal e o último
desvario da canção.
Minusculas luzes escapam
das pálpebras de pedra
janelas sem alento
pétreo brilho se refugia nos cílios
áridas trombetas de água acordam desertos.
(e suas beduínas sedes).
Como topázios bruscos
e íris mineral alucinando
poema se incrusta na página
pele branca da alma.
Todas as carótidas das rosas apanho
e as amontoo sobre as veias dos jasmins.
A natureza do ser é oculta (apenas parece)
o que se veem são as naturezas vivas
e o ser em sucesso (a usura de que se impregnam as coisas contagiosas são).
Só a linguagem desoculta
mas ao mostrar o ser
avesso do aparente morre
mergulha no absoluto ou no invisível
inverno do ter sido sendo. O desvelar
é fatídico. (abismo se levanta (para ser).
A linguagem que foge a isso é aquela prosaica, ordinária, comum, coletiva (não do ser, mas do que não virá a ser). E é dela que vivemos, ela é a ração vital das aparências. A sobrevivência.
Por isso não vivemos, sobrevivemos. O que há de oculto na natureza (inclusive, na de Deus), o que há de ser do real (aparente), Magritte, Vinci, Picasso, Kandinsky, Hegel, Kant e Marx expuseram.
Pound (o sismo do verbo) diz que o signo chega à última e extrema voltagem expressiva na poesia, onde se reúne toda a energia filosófica possível da linguagem criadora para o desocultamento do sentido ínsito na entranha da palavra (que é o sentido real, não aparente), energia filológica a potencial máximo elevada pela poesia, usina do verbo onde o demiurgo poeta siderurgia o futuro da palavra.