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Dom, Jun

destaques
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Van Google e suas telas, sítios, espúrios cristais

girassóis de pixels brotando das glebas do brilho

futuro aprisionado em monitores potentes

hagadês e hagadês deslumbrados

 

hipnóticas  centelhas escavando olhos

do interior das madrugadas vivas no vídeo.

 

Insetos oscilam entre dois cadáveres de orquídeas

e três  ossos de baunilha.

 

Cálices noturnos enchem-se de puro vinho de treva

vindo da uva dos olhos enquanto lábios deliram

e a sede se refugia nos alpendres do rosto

(e dos odres da dor brotam sorrisos póstumos)

enquanto pustemas assolam os últimos corações.

 

Nesse expresso esse de assassínios

valsas dolentes rodopeiam

ocultando vozes.

 

Favos e rosas irmãos morrerão

de ira floral indefectiva.

 

Às mandíbulas das cítaras entrego

o som carnal e o último

desvario da canção.

 

Minusculas luzes escapam

das pálpebras de pedra

janelas sem alento

pétreo brilho se refugia nos cílios

áridas trombetas de água acordam desertos.

(e suas beduínas sedes).

 

Como topázios bruscos

e íris mineral alucinando

poema se incrusta na página

pele branca da alma.

 

Todas as carótidas das rosas apanho

e as amontoo sobre as veias dos jasmins.

 

A natureza do ser é oculta (apenas parece)

o que se veem são as naturezas vivas

e o ser em sucesso (a usura de que se impregnam as coisas contagiosas são).

 

Só a linguagem desoculta

mas ao mostrar o ser

avesso do aparente morre

mergulha no absoluto ou no invisível

inverno do ter sido sendo. O desvelar

é fatídico. (abismo se levanta (para ser).

 

A linguagem que foge a isso é aquela prosaica, ordinária, comum, coletiva (não do ser, mas do que não virá a ser). E é dela que vivemos, ela é a ração vital das aparências. A sobrevivência.

Por isso não vivemos, sobrevivemos. O que há de oculto na natureza (inclusive, na de Deus), o que há de ser do real (aparente), Magritte, Vinci, Picasso, Kandinsky, Hegel, Kant e Marx expuseram.

Pound (o sismo do verbo) diz que o signo chega à última e extrema voltagem expressiva na poesia, onde se reúne toda a energia filosófica possível da linguagem criadora para o desocultamento do sentido ínsito na entranha da palavra (que é o sentido real, não aparente), energia filológica a potencial máximo elevada pela poesia, usina do verbo onde o demiurgo poeta siderurgia o futuro da palavra.

 

Murilo Gun

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