02
Sáb, Ago

destaques
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ao útero do hino

aos rins do solilóquio

 ao coração da tâmara

e ao pâncreas da elegia

 

Do dia abeto dióscuro e claro

impune carvalho

ou lúcido cedro avulta

ante tão sensata inverdade

(a do poema e do mundo)

poesia costura

borda do abismo sem lua

fia o disforme (e a banilha

que queria ser orquídea pereceu)

trama o que não pode

clavado de tijolos e ojerizas nuas

a construir a sucessão de sentidos

herança densa a leitor heroico.

 

Da tarde que o sol fertiliza retiro

a noite inócua (inacessível abelha

da colmeia de sombra) cravada

a fio de parca e canela

do lunar fio de mel lavra

(como crucifixo sem a palavra sangue ávida)

depois o tempo árido escalavra

e tudo o que seja podre torna-se

larva ou anáfora, fruto e alma

(podre fluxo do sentido verme

pedras do significado e carnes do vir enfruteçam

e torna-se roca do espírito farta).

Fio que falte corte completa.

Sopro que vaze fiat apague.

E se a morte fia a sina

assina o fim do fio (suma desdita).

Difuso e findo fuso

(a sus) ofusca o temor de ser.

Murilo Gun

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