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O haicai foi, desde o seu início, algo decisivo na poesia, constituindo um ponto de inflexão na poesia do mundo, dotando a palavra de energia incontida no âmbito da

contenção verbal vital que deva caracterizar o poema. Foi um retorno à origem lírica da poesia (assemelhando-se aos epigramas gregos de 600, 700 anos A.C.).

 

Como ponto de inflexão na poesia mundial, o haicai contém energia verbal incontida, seu conteúdo é quase espiritual. É ponto na acepção de limite, fronteira, começo e no sentido kandinsquiano de sonoridade profunda e nível de ressonância essencial da forma sensível de âmbito gráfico e natureza geométrica primordial.

Haicai é poema num ponto (alfa e ômega, princípio e fim), é poesia contida e ampla, unidade absoluta do verbo em ato de poesia, silêncio e palavra comungados para deleite, prazer e realização do espírito literário do homem.

Poema, que é clamor e silêncio exatos, destituído de qualquer espécie de emoção particular, isto é, verbo objetivo (objetivando a alma do leitor ou ouvinte).

Como elo de silêncio e fala, o haicai é ponto, pausa, fôlego da palavra, edifício (de silêncio) sobre o qual se eleva a linguagem.

Contém ou provoca o haicai uma percepção singular do mundo (ou de seus objetos), percepção estranha, velada e clara, diferente da percepção ordinária ou comum do mundo, das coisas, do ser. É o haicai – como se ouve e vê-se em Osman Holanda, lampejo insólito, feixe e chispa de relâmpago verbal.

Algo cuja sonoridade interior e ressonância humana é vital à vida. Forma que, mesmo abstrata, concretiza um valor humano essencial. É um poema que é um ser. Face à condição que lhe é própria de concisão absoluta, de grito contido no limiar do silêncio. Com a tonalidade de ponto do espírito.

Em suma, extraordinária forma, a mais concisa e sensível, capaz de captar o humano em sua verdade  verbal e elevar a linguagem à profundidade do ser.

Enfim, o haicai não é uma forma de poesia tributária da referencialidade ao mundo, mas da expressão humana (no limite do absoluto a que alcance a poesia).

Ao dispensar e independer da referência objetiva (ou servil) ao mundo, ao extremo, ao si do homem, o haicai alcança a poeticidade pura, a condição de pura forma, representando uma intervenção vital da linguagem que interpreta o mundo, na situação do ser (humano e duplamente em si e no outro).

Essa irrupção de palavra no leito da página (em trídua unidade), extraindo da primazia do verbo toda visibilidade e consequência patética da vida (além do pathos, a catarse), unificando a linguagem em concisão e expressão, é o princípio da poesia absoluta, que o haicai encarna.   (ao mundo, na forma básica de sua trídua unidade).

É esse modo, dessa forma que Osman Holanda conduz, no âmbito de expressão complexa, sutil e direta (em superposição simultânea e não mera sucessão de palavras), a sensibilidade e o afeto do leitor, por veredas e saídas, por trilhas emocionais e humanas em essência, até o limite do verbo (que é humano).

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Murilo Gun

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