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Dom, Jun

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O burguês clássico (e o Brasil de hoje tem milhões dessa “espécime”) não gosta de nada conotativo.

A designação, o desígnio, o design, tudo tem que ser claro, exato, definitivo (desde Platão). E os poetas (aqueles que se arrogam de absolutos) descumprem tal com essa coisa conotativa, de significação turva. O que não é nada bom para os negócios (inclusive poéticos).

 

A linguagem tem de refletir a realidade tal como é, hoje e sempre. Os estados das coisas (e de coisas) não pode mudar. Sem causar perigos burgueses.

As declarações poéticas, então, devem ser claras e irrefutáveis, além de logicamente belas. Ou inocentemente perfeitas, sem deformações senis.

As sentenças poéticas devem revertirem-se de plausibilidade e abarcar sem maiores complexidades ou invenções o mundo em si (tal como é e aparenta ser).

A preocupação burguesa é que o poema (como o pensamento) ofereça sempre uma imagem fiel e exata – sem deformações metafóricas extremadas e complexas – e igual para todos, sem exceção, do mundo – que é, por definição e natureza bursátil – imutável. E esse mundo chegou à situação do melhor possível, após a salvifica onda do bendito neoliberalismo.

Representar fiel e religiosamente o mundo de cada dia com exatidão e palavras claras (trobar clus) é ideologicamente perfeito.

O poema, entonce, deve coincidir com a imagem mental e física (psicologicamente dominante) do mundo. Imagem possível dentro das condições ideiais de TP e de conformidade com os limites lógicos com que a linguagem veicule a realidade definida e definitiva do mundo tal como hoje é. Perfeito (descontando Dilma).

Designar, descrever, aceitar é o desígnio de todos e a missão da poesia.

Se o poder da linguagem serve para descrever e designar – e como a poesia absoluta não serve para tal – porque sugere e conota sempre – então a linguagem (na situação de hoje) não serve à poesia. O poeta absoluto a dispensa. E que leitor relativo enfie a sintaxe onde quiser e sente em cima de uma gramática afiada.

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Murilo Gun

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