Se a poesia absoluta é atemática, é imateriália. Não é abstrata, sob pena de ser louca, redundante, pure nonsense, meio decorativa da página, colorífica.
Se dispensa o tema, qual o objetivo ou como substituí-lo? Ao renunciar ao sentido, o poeta moderno renuncia ao objeto. O objeto do poema não é mais o objeto material, a descrição, o fato, o aniversário, a queda das torres gêmeas, a enchente, a seca. Algo meramente concreto. Que antes interessavam. Mas foi (dialeticamente) ultrapassado. O realismo, que foi o gênero por excelência do capitalismo iniciando sua performance de juros, moedas, ágios, usuras, hoje está objeto. Chega a época da abstração, mais do espírito que da carne, o tempo da imateriália e não mais da animália). É a poesia livre (do comércio da palavra) para expressar e expressar-se. Ser verbo.
Renunciar ao sentido, ou antes abstraí-lo ou esquecê-lo, por indesejado e não pertinente, é essencial à poesia, ao poeta, melhor dizendo. Para a poesia do século XX, desprender-se do sentido é algo equivalente à renúncia à arte figurativa por Malevitch, Kandinsky e Mondrian. Com a poesia (neoposmoderna) assim como no caso da arte abstrata, a forma finalmente se libertou do conteúdo (o poema do sentido, sempre prosaico).
A forma torna-se o próprio conteúdo do poema. E simplesmente abstrai-se essa distinção inválida, hoje, de forma e conteúdo. Todo texto de poema absoluto está atrasado em relação à novidade estética que ele representa, como ponto do futuro. Então, o campo está sempre aberto... e fecundante. O objeto poema absoluto está sempre longe, como um limite (ou ilimite) ou fronteira a devassar.
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