A louca largueza da noite me contempla.
O noturno em mim saboreia o verbo.
Ao culto nunca diurno me devoto, vivo.
Sinto Holderlin rodear-me
e de sua diva loucura me sacio, felizmente.
A noite é refúgio e semente
mais forte que as vicissitudes inúteis
do dia, que não é nada durável (como uma geladeira).
Das mediocridades fujo, delas me livro
livro a livro, pena a pena, uma a uma.
Ao asilo temporal da noite me recolho
o poema no alforje noturno (e vivo).
Ao poeta escuro, a religião
da noite reza. E translucida.
Os que nunca chegaram ao ninho
ao colo, à mãe noite viva
desistam da poesia. Só diurna
a insombrada prosa os aceita.