Poemas através da noite
(Sinfonia verbal para partituras de sal)
Eis anoitecer difícil
que fogo dos anjos exalta
e éter da luz ateia na alma
eis que o limo da solidão rebrilha
e a água da poesia lava
a dor poeta.
“Eis a pedra que rola escadaria acima
eis a rola que arrulha na ravina
eis a derrota da deriva ethérea”
(eis profeta Barahona
dervixe Antônio).
À esquerda, alma deserta
à direita, mistério da treva
e na lagoa celeste
que é os olhos da criança
poema rupestre.
Às abissais cores diárias
aos bisturis e lâminas do verbo
às palhas da agulha
e aos podres do futuro.
À borboleta que é a alma.
Busque nas pegadas das estrelas
as sílabas meu nome, amiga.
Arraste o brilho das nuances
até o deserto do meu rosto
explique aos aluviões os rins da safra
e não culpe as pétalas falhas
pelos insucessos da rosa
seixos rolantes em escadas de nuvem ou jade
não construa
não atice música azul
ao som de pelicanos pianíssimos.
Entre dois copos de tempo
uma horda de vento
e um pote de cintilações amenas.
Flutua uma manívora
e uma derrisão de flores lentas flutua.
A nuance do cipreste é triste.
Eis que perfila no silêncio
trem ferruginoso e atento
com bois de cambraia mugindo
entre flores afegãs e puídos alentos.
Que do indomado mar amniotical vê
palavra nascendo do tempo.
Que a noite orgulhosa do teu corpo
amigo te tenhas com ternura.
Que do umbigo da rosa renasças
e eu te tenhas como amiga
irreal ou não, pura de mácula, nua de alma.