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Dom, Jun

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Ao ver o carnaval chegar, apressei o passo para abrigar do frevo a alma. Buscar um retiro para ela. Cuido bem da alma, nino-a, dengo-a muito, não a deixo entregue ao

deus dará da festa sem coração que é o carnaval.

 

E ainda: sondando, achei minha alma muito barulhenta. Irritada, como que despranaviada. O humor do espírito – ou o espírito do humor – meio que avariado. Então: o que fazer para encontrar retiro ideal para alma vital?

Lembrei de Hélio Silva – o magnífico historiador, de Tristão de Athayde, modelo de demiurgo ou padrão do pensador cristão católico brasileiro, e de VCA, todos com experiência do silêncio e da bem-aventurança, que é qualquer Mosteiro de São Bento.

Por que não? Botar a alma (e o corpo junto obviamente) num mosteiro, durante os tríduos, isenta dos barulhos e das multidões carnavalizadas.

Colocar a alma (e o corpo que vai junto, infelizmente) onde?: num mosteiro; quando?: no carnaval! É. E mãos a obra. Internei os dois. E prescrevo: cuide bem da alma, sem ela você vegeta tipo morto-vivo, perambula sem saber porque ou onde. É então banal, comum, simplório homem de pouca alma ou de alma descuidada que dá dó.

Ora, o corpo merece desvelos, atenção, consideração etc... é que sem ele a alma não funciona, desde que o corpo transporta a alma, é veículo dela. E quando se separam é triste, meio fúnebre, escatológico.

Mas exageram os que cuidamos com excesso para com o corpo, como se fosse essencial em si. É salão de beleza, modelação por malha e bisturi, remendinho, roupinha... e mais o que o joinha faça para turbinar o corpo. Enquanto que a alma – sua essência – só por não ser “corporal” – fica ao relento desprezada, triste, desconsolada, num corpo, que ela dirige, em última instância, e recebe toda a atenção.

Urge criar salão de beleza para a alma, academia mental, ginko biloba metafísico... e sorvete espiritual.

Vou soltar a alma no Mosteiro, ao longo do carnaval, deixa-la delirar, espalhada no claustro, na cela, dou ao corpo cilício, a ela mimos e mais mimos, pois alma mimada é outra coisa... e, depois da quarta-feira, em lugar de cinzas, estrelas e fogonovo.

Aprendi solidão, a mais sólida possível, no Mosteiro de São Bento de Garanhuns. O lugar parece triste, despovoado, calmo demais, branco, oco, silencioso, fantasmal... mas é nesse ambiente pouco corporal que alma se farta, vibra, luz, goza... vira uma criança, não para de vagar e gemer de alegria solitária. E ver e ouvir o espírito florescer é de mais de bom. Sinta. Retire sua alma, um dia, da balbúrdia... e... Sou amigo do prior Dom João Batista, que é um gentleman e um asceta.

Uma observação que reforça o cuidado com a alma... atenção é igual à distração, para ela. Ela não distingue. Alma distraída está atenta... está alerta em relação ao fator que a distrai... então está concentrada e dispersa em núpcia dialética... é o que se taxa de nível alfa. É quando a contemplação está ativa... e adolesce o espírito.

A alma é como uma abelha, digamos metafísica... vive em enxús mentais. Todo o enxame da alma exige um farvo calmo onde recolha suas ceras e excessos, ruidosos e sinta o mel da solidão essencial, em que opera e nos movimenta, Então... todo cuidado com sua alma é pouco. E cuide do corpo, veículo da alma. Duas faces da mesma moeda do ser.

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Murilo Gun

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