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Sáb, Maio

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            Vital Corrêa de Araújo 

UTILIDADE DA POESIA – Encontrei (VCA) de súbito e em definitivo, uma nova, real, perfeita utilidade para meus (22) inúteis livros de poesia: PESO DE PAPEL.

Papel pesa, papel com poemas presados pesa mais ainda do que prosa (duas e meia vezes mais, conforme ponderei cuidadosamente); como dar uma finalidade vital a esse peso etéreo e real do volume compendiando o objeto estranho e indecifrável, ambíguo e mais do que meio ilegível, inusitado monstrengo de palavras, que é um meu livro de poemas. Se já não os lanço (a não ser em cima de papeis voando), não ocupo inutilmente o precioso espaço das prateleiras de livrarias, os amigos não os querem, desdenham quando lhes doo, e depois de duas olhadelas, fecham-nos para sempre, sepultam meus probos (ou melhor, pobres) livros de poemas numa gaveta infecta ou num escaninho eterno, fazer deles o quê? Essa questão vital me persegue há anos – em 2012, quando publiquei 5 ou 6 livros novos, inéditos (perdi a conta), o problema, a interrogação avolumaram-se. Então, de súbito, descobri como dar efetiva utilidade máxima, perfeita, a meus pesados livros: servir de (meio erudito) culto PESO DE PAPEIS, evitando assim que o vento (ou rumor de ar) espalhe ou disperse suas contas, cálculos, informações vitais de negócios,  dados bursáteis e índices preciosos ou borrões de créditos ou dividas pagáveis (ou não), as resmas de suas usuras e telefones de amantes. Bote um vital peso poético sobre suas coisas leves. E viva melhor.

(Moral da história: O bom é que quanto mais vento sobre mesas, mais saída para meus impreciosos livros. Já não colocados em livrarias, serão distribuídos a Casas de Decoração para venda (saída) como (culto) Peso de Papel.

            A propósito da inutilidade poética, o livro Crepúsculo do pênis (cuja capa é indecente porém estética obra escultórica em foto hábil) foi recusado por 6 livrarias, pela indecência da obra de arte da capa. Estamos em que época, no Brasil? Séculos 18 ou 19?

            A foto da capa sobre obra de arte denominada “Caralho de Asa”, de S. Hansen, escultura comparável “mutatis (muito) mutandis” com a ferrenha e popular alta e fina obra de Brennand que se levanta do arrecife do cais do Ponto Zero do Recife.

            Para proceder à avaliação de quem pesa mais poesia ou prosa, galilaicamente (posto que sou laico na matéria), muni-me do inciso instrumental (condições normais de TP, vento hábil – brisa surda, local e hora adequados à verdade do experimento e balança de precisão suíça – adquirida, em Garanhuns, e digital, capaz de pesar um átomo nu), e procedí à medição, ou melhor, pesei dois papeis. Um em cada nanoprato fractal eletroniquizado devidamente. Contendo um deles (dos papéis) só prosa (escorreita ou não, não importa ao resultado, pois não pesei qualidade). O outro papel poemameu.

            De imediato, o lado poético do prato pendeu, exatamente duas vezes e meio mais. É o “quantum” poesia é mais pesada que prosa.

            Soa de bom alvitre dizer (alto e bom) que a poesia pesada da experiência (galileica) era a mais de versos basálticos possível. Tratavam-se de poemas vindos diretos do id (vital) sem passar pelo crivo prosaico da consciência, filtro que despoetiza qualquer texto mediamente poético. Posto ser a consciência castradora excelente da melhor poesia. Pelo superego (idiota em literatura avançada) ou pelo grande outro, mutilados o texto vital.

            Em suma, saindo (meu) poema expresso do id, em, para dizer o menos, irascível, carnívoro, ato puro animal de palavras da mente, e livre como pássaro selvagem. I. e, pesadérrimo.

           

Murilo Gun

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