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PAUL CELAN, um dos maiores poetas da Alemanha – para mim ao nível de Holderlin – era judeu, foi judiado pelo sistema hitlerista de direita radical e violenta.

Sobreviveu às torturas e ao sistema nazi de governo, ou melhor, sobreviveu a alma, o espírito que modelou as sílabas de poemas imperecíveis, a partir da primeira recolha – Ópio e memória, de 1952, sete anos após o fim do nazismo. Sua obra é uma partitura sublime de sílabas. Celan suicidou-se em 1970.
O holocausto ainda fazia vítimas. Seus poemas sempre foram um caminho à morte (morte que a violência nazi incutiu nele, incubou nele, e dessa incubação não escapou). A morte foi uma baliza do peregrino da vida poética imbatível. Celan cavalgou a lua, acessou o cosmo, foi além de si e do ser. No entanto, nunca desistiu da noite sua alma.

Os livros seguintes: De Limiar a Limiar (1954), Grade Verbal (1960), A Rosa de Ninguém (1963), Mudança de Espírito (1967), Fiapossois (1968), Luz Compulsória (1970), Partitura de Neve (1971) e Sítio do Tempo (1976), entre outros. Adquiri-os (a alguns) na Alemanha (no original) e em Lisboa, desde 40 anos. Era uma poesia sublime e hermética por excelência. Um mestre (dos mestres). A poesia de Celan tratava da ilegibilidade do mundo, porque ele era um poeta absoluto, cujo escrita fugia da aparência, esse traste do real e máscara da dor, vida que o torturou e a seu povo, incansável e cruelmente. Celan foi, com sua poesia hermeticamente fechada em livros admiráveis, à essência do humano, do real, da vida, e tal essencialidade tão vital a ele, porque significava, não uma fuga do mundo, uma mera evasão das coisas mas um encontro do humano consigo mesmo. A humanidade nunca fora ou seria nazi. O nazismo foi uma mera excrescência, uma Hitler foi um pústula, um verme, sem querer ofender a este. Então, a total inelegibilidade da poesia de Celan era uma forma dele superar esse mundo baixo e violento que viveu, e atingir à essência das coisas, do ser, do si, da sociedade, da vida. E possível ler o tempo pela voz escrita de Celan. Ele nunca sobreviveu ao âmago. Ele esquece o eu e, ao ausentar-se de si, torna-se o poeta de todos.

Murilo Gun

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