19
Dom, Maio

destaques
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

Na república mundial das letras, vivemos, no Brasil, ainda uma monarquia, em que o rei Machado (diacronicamente meritoso, sincronicamente superado)

atravessa séculos (desde os oitocentos) com seu protagonismo e idolatria íntegros e exacerbados, projeção de um senso da covardia que induz os escritores (os maiores e melhores fanáticos machadianos são os colegas romancistas) a mascarar o ressentimento pelo sucesso do outro, concentrando, no bruxo do Cosme velho, a atenção, o louvor, a admiração, o encômio integral. Figuras como Jorge Amado (de cujo Jubiabá ainda sinto a presença da leitura aos 10 anos) são escanteadas a segundo plano, porque o primeiro é do mulato carioca.

Em suma, a unanimidade naciona (e burra) pelo fenômeno Machado de Assis, queremismo alimentado por tantas rações editoriais, idolatrado de norte a sul, leste a oeste, milimetricamente saturado do mito machadiano todo o país, ofuscando automaticamente outros romancistas, todos considerados inferiores a Assis, por definição, nunca dignos (nenhum) de ombreá-lo, cria no Brasil uma situação esdrúxila de inferioridade nacional, complexo que se alevanta mais a cada dia, tornando toda a literatura brasileira candatária de MA.

Eis aí o vício, a atitude infantilizada, que nos isenta ou afasta (exime da concorrência) do Nobel. Eis as razões porque esse galhardão (que é republicano) nos escapa sempre.

Enfim, corta o Brasil o monumento (maníaco) do monoteísmo literário Machado de Assis (ou mito de pés de barro?).

(Como em Pernambuco essa mania da eçamania).

 

Textos poéticos são armas, objetos, utensílios para serem empunhados, brandidos contra o estabelecimento cultural (bandido), contra o folclore literário (que nos faz idolatrar, em pleno terceiro milênio, Bilac, Castro Alves e outros do século antepassado, idos dos oitocentos. De certa forma, o endeusamento, a forte presença anacrônica, a superveniência no século 21 de Castro Alves e Olavo Bilac são eloquentes e sintomáticos. Exceção, só, de Augusto dos anjos, até hoje estranho transgressor moderno.

Recorrentemente, a postura do poético hoje, agora, deve conter posicionamento linguístico contra todo tradicionalismo acadêmico e bem comportado, para quem arte é um processo acabado (sic), concluído, estagnado, estabelecido em definitivo no passado, e o presente de toda arte é supérfluo, impotente, desvalido, pódio para louvar a arte excelsa dos séculos mortos.

A arte estagna, não tem valor, é residual, limitada.(?)

 

 

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
 
Advertisement

REVISTAS E JORNAIS