03
Dom, Ago

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São três da manhã, desde as uma procuro o sono (até debaixo da cama),

acho que ele se escondeu na pálpebra vital. Então... o que fazer?... poema. Consulto o termômetro alemão: 19º celsius e 82% de umidade, no Monte Magano. E o pior: amanhã, às 7, (daqui há 4 horas) vêm as faxineiras.

 

 

Há uma cor em algum lugar da salinha

a mesinha gelada, garoa entrando pela brecha do losango de vidro.

Sinto solidão bem ajustada caminhando

num chão áureo de rosto vasto. (Não

sei donde veio isso: são só palavras, talvez).

Solitário vital vive num vale morno

entre seios duros. Bons. Como bumbuns.

 

Há um dom em cada morro de Garanhuns

e uma dor ínsita nas palavras bem ou mal ditas.

Mordo um cacho de uivos vivos. Lá fora

do vidro da janelinha defronte o escuro é breu.

(Isso não é poema...).

Espero a manhã farpada. E o sol teso.

Lembro que o crepúsculo de ontem alterou

teu humor, não vieram desvelos e a penugem

da pele ficou hirsuta. Algo de salino chegou.

Um lento silêncio e sorrateiro se alojou

entre nós como um muro de abelhas.

Pensei num óvulo e em falésias nuas.

 

Muralhas irromperam da varanda

portas fecharam o grito.

A noite segue como uma pera imperfeita.

Ruídos morrem. A sombra é minha.

A solidão exige um texto. Sem escrúpulos tardios.

Deste-me então mordidas de canduras.

 

O poema é um circo de palavras.

 

Do fulgor do estribilho escuro

vem a infância do versículo

da teia de cinza vem o epíteto impróprio

ou impropério atento

a ecoar nas platibandas dos tímpanos

do lento amálgama de palavras insolentes

vem o poema, salta

a metáfora desonrosa (e murcha).

 

O poema aniquila o verso.

 

A solidão é o que sonha a multidão.

 

Sou apenas um sonho de meu avô delirando.

 

Vive do acaso a palavra poética.

E do mercúrio febril.

 

Há uma raiz de silêncio em mim

que rebenta o branco grito da página.

 

Grito de sílex vindo

da garganta do feldspato.

 

Aríete de sal das fortalezas insossas.

 

Asfódelos no jantar, hoje.

Bem assado assim com um também.

 

Do silêncio puro dos olhos fechados

do pranto empurrando a pálpebra

das pupilas arrancados pela passagem

do exílio dos olhos.

 

O Brasil corrompe.

 

O arado é o detrator da semente.

 

Dedos detestam alianças. Amam cutículas.

 

Todo nome tem sua areia. E nódoa vital.

 

Lágrima só de granito.

 

Pranto de cimento amado.

 

Gesto só desconjuntado.

 

Paz só infeliz.

 

Sífilis só no prepúcio.

 

É belo incêndio de libélula.

 

Cárceres pra liberdade cresçam.

 

Lágrimas novas não são salgadas.

 

“Quando turista morre envenenado por

cogumelos é apenas a paisagem que se vinga.”

 

Desemprego... não pra carpideiras.

O Brasil merece.

 

A dor antes aduba.

 

O exílio é excelso.

 

Orvalho é mais vivo sobre lápides.

 

Rosas nas campas desembrocham mais santas.

 

Papoulas são lentas. Ópios rápidos.

 

O vácuo é divino.

 

A lua das uteís é linda.

E de acrílico cinza.

 

Archotes detestam fósforos.

 

Tomo memorial há 30 anos para a poesia.

 

Vômito é preciso. É vital.

 

Os astros do cume comemoram o quê?

{jcomments on}

 

Murilo Gun

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