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Sáb, Jun

Diversos
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1.Excavo (com x, pois o objeto é o id), além das impassíveis escavações, que faço, dia sim, outro não,...

e descubro ossos gargalhando, mandíbulas vermelhas, sonhos ainda encaixotados, tulipas despedaçadas, alhos devoradores e ameixas estupradas. Descubro velos, ilhas novelos, almas, vendas, moinhos de mordaças, tapumes irrequietos, abelhas. E grosas de lux intacta. Tímidos raios ainda do Fiat Lux primevo.

 

2.Descobri os cimentos originais do templo do imperador Augusto no subsolo da Catedral de Terragona.

3.O corte da lama, o córtex da lâmina. Andei por mares interiores abertos. Com a foice da palavra cerce decepei o inútil. E toda futilidade decepei.

Com a cimitarra do ânimo em riste avancei página afora degolando ignóbeis verbos. Que amontoei sobre pilhas de dicionários ardendo.

Cortei cabeças nobres de reis, seus soldados dizimei com o chumbo da fantasia. Família reais sangrei sem escrúpulos e com perícia... e o sangue delas todo fluiu como um gêiser valente para cima de meu rosto vitorioso.

Nada dixit Assurbanipal ao elevar ao vero apogeu o império assírio no século asiático (VII AC).

4.Se meus lábios tendem ao úmido (e se a pele do mamilo os enfeitiça), é que viemos de uma monera aquática primitiva (como a água de Tales).

5.A poesia está além do céu e do inferno.

6.Para o homem em seu perigeu o sol é sombrio corpo celeste. Para o homem no apogeu céu é lua de lobo e a matilha de brilho das estrelas é Deus.

7.Ser capaz de morrer de êxtase iluminado em efusão lírica com o mundo vivo. E da lua refratada e da luz dissolvida e dos coágulos de estrelas e da prece sombria retirar a poesia... e da intransitiva via do verbo ser o servo do sublime a profetizar a palavra, pois é na imprecisão da claridade poética e no lirismo escuso que está a vida.

8.2 O poeta é apenas um homem a que a proximidade da manhã – e o sal do sol cedo – não inflama, e que da viva espessura dos pássaros e do canto do muro tire o sustento da alma.

9.3 O homem relativo é caro, custa mais do que os olhos da cara... nada vê de divino. O homem absoluto foi a original criação de Deus (do qual Ele não se arrependeu). Aprendo todo dia desde a alba isso. O resto foi a praga que destrói a Terra.

10.4 Possessão da solidão não deixa saudade. E ninguém a consome. Não se vende solidão no supermercado. Há gôndolas de desespero e caixas de vozerio multitudinário, além de pacotes de urro tudo coletivizado como a consciência. Não há ração de solidão ou latas de coisas solitárias à venda.

11.1 É no cárter úmido da solidão do Brejo que sou (vital e cia). Sou real e tenho meus elísios (e Deus mesmo) que ocupam meu interior todo. Infelizmente.

12.B. Não deprecio a terra, não desperdiço a ternura, por isso sou humano mesmo demasiadamente humano. Pois o reino do homem é desse mundo que estamos a destruir com perícia. E a obra humana está bem avançada. De envenenar a vida.

13.Do secreto sal – e do elixir oculto – extraio a palavra para o poema. Antes, adoço a alma, brindo-a de guloseimas, blindo-a de pueris trivialidades e insosso lirismo.

13.A. Ao mar tropical dedico o poema. O poeta é como peixe fora d’água: indomável. É o ser mais pirado e menos inspirado do mundo.

13.B. Daqui a pouco vai acontecer o nada...e iremos para a mesma vala.

13.C. Amo as cinco horas quando acordo e desperto pássaros do ninho do sono.

14. Vale muito mais a pena viver porque os cemitérios circulares incas são imunes a terremotos.

15. Meus mais sólidos votos de solidão miram de través meus lassos botões que disparam imbuídos de solar paixão: resisto, caras, e nem sequer vacilo porque sei que o problema (e a guerra inclusiva) é culpa dos outros – que são o inferno... e a verdade cinzenta. Mantenha distância e evite o próximo: é perigoso.

16. Não se vê uma imagem, como se olha um objeto. Olha-se uma segunda imagem, dixit Marleau – Ponty.

17. Sobre o rosto o fluxo do tempo não coagula, nem estanca a passagem. O jorro da hora não estaciona no ser. A haste do tempo detesta culatra.

18. sempre é o tempo amálgama de presente, passado e futuro.

19. Ao impassível pó.

20.2. Plurívoco poema de ubíquo sentido ambíguo.

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Murilo Gun

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