recolhidas com apuro e dedicação por Osman Holanda e Vital Corrêa de Araújo
Zizek é esloveno e filósofo, psicanalista da linha lacaniana (um dos seus principais livros é Ler lacan); A Eslovênia surgiu do desmembramento da Iugoslávia. Em 1991. ele disputou a cadeira de Presidente.
Atualmente, promove seminários sobre suas ideias (espectro) que abrange de ecologia à moda, Freud, Jung, Lacan, dialética materialista, teoria quântica (e filosofia quântica), política e economia globais. Sobre qualquer matéria é sarcástico, polêmico, destroi o velho para construir o novo. Atua nos meios acadêmicos e intelectuais da Eslovena, Suíça, França, Inglaterra, Estados Unidos (e quem sabe Garanhuns).
Para avaliar o ponto de vista inusitado e pós-moderno de Zizek: essa pérola.
“Quando as pessoas perguntam por que não dou aulas de modo permanente nos Estados Unidos, respondo: as universidades americanas têm essa ideia estranha, excêntrica, de que você deve trabalhar por salário”. O que não é digno de um filósofo neoposmoderno como ele.
Zizek – O superstar da política, filosofia e psicanálise de hoje, abraça a provocação, é jovem, afável, engajado, sarcástico (à Voltaire e Wilde). É um intelectual gozador e gozoso, dotado de um supercérebro (será Zizek ET?) maior do que a realidade e explosivo em ideias.
Temas zizequeanos, entre muitos outros: Filmes de Hollywood (Chaplin e séries Matrix, Alien, Exterminador), Hitchcock, Lynch.
Ficção popular, tipo Stephen King, Highsmith, Conan Doyle, Agatha Christie, Ruth Rendell.
Sófocles, Shakespeare, Kafka, Henry, James, Joyce, Musil, Machado de Assis.
Ópera dos séculos 18 e 19 (em especial, Mozart, Bizet, Wagner). Psicanálise, biogenética, neurociência, física quântica.
Zizek encara o conceito de verdade de forma peculiar e única: “Verdade é a compreensão global das relações de poder reais que controlam a sociedade e das ideologias que impedem essa mesma sociedade de realizar a liberdade social e política”.
Como filósofo político, Zizek tem uma visão universal das coisas e as amalgama com Lacan e Marx de lambuja.
Para ele, marxismo e psicanálise compartilham a ideia de que a consciência absoluta do Self é impossível de ser atingida.
Marx aplicou essa premissa ao capitalismo e Lacan à estrutura da linguagem.
Para Marx, segundo Zizek, o sujeito é formado no ato da troca econômica (comprando ou vendendo a mercadoria elou o sujeito ou a si mesmo). Enquanto para Lacan, a linguagem constrói o sujeito à medida em que ele fala.
Para Zizek, psicanálise não é coisa de elite (para curar ricos do excesso de fortunas e do peso da consciência culpada com o lucro obtido em detrimento do povo) mas deve ser aplicada em clínicas populares (no caso do Brasil, integrando o SUS).
Se o mundo e as coisas da política afetam a vida das pessoas, não se deve vulgarizar e folclorizar a política, considerando-a como uma profissão para fichas sujas, algo à parte da vida, e desprezável, que se deve ignorar porque é complexo, coisa de político.
Para Marx, a religião era o ópio do povo. Para Zizek, o novo ópio do povo é a ecologia, desclassificando a religião.
Ele identifica a ecologia como uma das principais áreas de luta política hoje. Isso se deve ao crescimento da crise globalizada do capitalismo que pôs em causa e ameaça as condições de vida gerais do Planeta Terra. O ápice dessa crise é, agora, economia global em polvorosa (o bater de asa de uma libélula no Japão cria um terremoto no Alaska); os líderes mundiais imóveis sem saber como gerir a crise ecológica e como ver além dos próprios umbigos comerciais.
A ideologia (romântica) vigente sacraliza a natureza, vista como harmônica, passiva, bondosa, beneficente, Mãe Terra, nutridora e benigna, a que os homens detratam, humilham, exploram, devastando os recursos que essa mãe se esforça para oferecer de graça aos filhos mal-agradecidos.
A ecologia liberal vê assim as coisas. A terra é algo sagrado e se hoje a saqueamos é que estamos fazendo empréstimo ao futuro. Dai os créditos de carbono. Os bancos ecológicos. Se uma empresa devasta, paga a outra que gasta com reflorestamento. Eis o equilíbrio perfeito. Quanto mais floresta queimada mais crédito de carbono acumulado nos bancos ecológicos.
Zizek: “Para os liberais é como se o aquecimento global fosse um mal necessário transitório, uma violação da sacralidade da terra, que uns ritos sementeiros logo apagassem, agora ou em algumas dezenas de anos, assim que as coisas usurárias permitissem
Os grandes empreendedores (essa raça divina) e destruidores da natureza, sentimentalmente sofrem com o desmatamento e uso de agrotóxicos, mesmo chegam a verter lágrimas (de crocodilo) e resumem: é triste, mas fazer o quê, se tenho que empregar, gerar renda e dar de comer à humanidade (que devora plástico e bolsas de couro de cobra, jacaré e cia).
Amanhã, quem sabe, boto um filtro, deixo em pé algumas árvores centenárias (um enclave como os da Mata Atlântica, na Mata Sul) e... aumento os preços.
Afinal de contas (conclusão de Vital e Osman) nós somos da raça de Deus, o nosso reino não é a terra, é o céu, então que a natureza se vire, pois nós somos estranhos a ela... e provisórios nela, que é apenas uma casa de passagem. (Da qual não temos grandes responsabilidades, nem com a limpeza, manutenção e renovação).
Zizek compreendeu, assimilou claramente o efeito, as consequências, os nefastos resultados da crise ecológica (a maior crise política atual, no amplo sentido de política (politikon) que concerne à vida e estado do povo) sobre nosso sentido de estar no mundo. Dele, trazemos essa outra pérola:
“Toda base de nossa vida cotidiana está ameaçada, o padrão, a necessidade e o fundamento mais essencial de nosso ser – a água e o ar (leia-se Tales e Anaxímenes), o ritmo das estações do ano e assim por diante – essa base natural da vida pessoal e atividade social – aparecem como algo contingente e incerto”.
Ou seja, o necessário é contingente e incerto. A certeza é contingente. O essencial provisório. (Tá tudo invertido).
A lenda urbana liberal de, um dia, encontrar o caminho e voltar ao que era, à era do natural autêntico, não envenenado, ar puro, água impoluta, tudo reflorestando (dinossauros inclusive de volta a cargo de Steven Spielberg); essa ideologia de que, mediante planejamento estratégico global e gestão ecológica apropriada, tudo retornará. A natureza a tudo o que era antes no quartel de Abrantes do político e ecologicamente corretos é lenda, coisa prá o boi do povo e da consciência empreendedora dormir. Nada se restaura, tudo se transforma. Para o mal ou para o bem.
Quando o G20 decidir e a ONU apoiar o equilíbrio natural da terra vigoroso voltará. Balela.
Para Zizek, a primeira aula de lição ecológica é: livre-se de todas as ideias sentimentais (dos ecologistas práticos), preconceitos ecológicos (dos teóricos da natureza renovada igual ao que era), sobre a natureza e o universo.
A natureza nunca teve uma base a que voltar. Ela é movimento. A cada dia, há bilhões de anos, a natureza é diferente. Glaciares, terremotos, meteoros (que remetem a eras glaciares extensas), catástrofes incomedidas acontecem a cada segundo, mudando tudo... e nada é igual (vide Heráclito e as águas da mudança e o rio do tempo).
Dispa-se, portanto, leitor de quaisquer ideias remanescentes ou bem fincadas, qualquer resíduo ou restolho da ideia romântica ou religiosa sobre nós mesmos e o ambiente em que vivemos, dispara Zizek.
Portanto, devemos partir do cocô que criamos e fazer dele vaso de salvação. Deixar de sonhar, agir.
E Zizek prega “O desenvolvimento de decisões coletivas em larga escala (amplitude global) para se opor à lógica espontânea e decisória do processo vital capitalista... para assim “parar o trem” da história que corre para o precipício sem fundo da catástrofe global”.
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