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Dom, Jun

destaques
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O ser, raramente dado sempre conquistado

aterra CIORAN, merece a honra de uma

maiúscula... não por sua máscula

musculatura filosófica, mas por ser

perseguido por PERSE, como o foi

- e é - por HOLDERLIN.

 

Começa assim o ensaio de Cioran

donde extraí: Na poesia de Perse, há

sempre surpresas e frequentes sensações

do instantâneo permanente. "E

subitamente tudo é, para mim, força

e presença - não impotência e ausência -

onde arde ainda o tema do nada". O

próprio mar, como ovação súbita... e

óvulo da água, derrama-se na página.

 

Da ovação branca e espumosa

vem a onda intranscendente da

palavra, o súbito ovário do verbo

 

aberto em vertigem perfeita, a total

transfiguração do inanimado ainda

a vitória do pleno e do aberto sobre

o vazio azul ou sobre o azul vazio.

O aborto adiado.

Perse - Chanceler da França por vários

anos - amigo de Daj Hamatshose da ONU -

renunciou ao supremo cargo por oposição

valente ao nazismo... e exilou-se nos

USA, passando a explorar as pedras e os

líquens das Montanhas Rochosas, donde

extraiu poesia sem limites. Assim,

reconciliou-se com o mundo,

enraizando-se profundamente nele, com

as plenas credenciais que só a poesia (ou plena)

concede.

 

Em PERSE (que li por anos...

e voltei a ler por 3 meses exclusivos) cada

palavra é debruçada sobre a coisa, sobre

o objeto do mundo de que se apropria

o homem para conhecê-lo (ao objeto

e ao mundo) e para transcendê-lo.

  

É à exaltação da palavra, à plena

elevação do verbo além do homem que

Perse dedica a poesia.

 

Hino cintilante à diversidade do

ser e das coisas, ladaínha ao uno

ode ao fogo que dá vida ao oco - que

é o homem - salmo à sílaba e ao

verso inverso, canto à ebriedade

originária dos elementos é

 a poesia perse, francamente hermética,

sublimemente poética.

 

De uma sílaba celeste à prece

cósmica imprecisa e soberba, Perse

ergue súbita prédica lírica à cidade

moderna: esse gólgota de lixo e útero abatido

de dura ferragem... recurso irônico

à terminologia cristã desse insuperável

pagão, soletra Cioran.

 

Murilo Gun

REVISTAS E JORNAIS