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Dom, Jun

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Poemas através da noite

(Sinfonia verbal para partituras de sal)

 

Eis anoitecer difícil

que fogo dos anjos exalta

e éter da luz ateia na alma

eis que o limo da solidão rebrilha

e a água da poesia lava

a dor poeta.

 

“Eis a pedra que rola escadaria acima

eis a rola que arrulha na ravina

eis a derrota da deriva ethérea”

(eis profeta Barahona

dervixe Antônio).

 

À esquerda, alma deserta

à direita, mistério da treva

 

e na lagoa celeste

que é os olhos da criança

poema rupestre.

 

Às abissais cores diárias

aos bisturis e lâminas do verbo

às palhas da agulha

e aos podres do futuro.

 

À borboleta que é a alma.

 

Busque nas pegadas das estrelas

as sílabas meu nome, amiga.

Arraste o brilho das nuances

até o deserto do meu rosto

explique aos aluviões os rins da safra

e não culpe as pétalas falhas

pelos insucessos da rosa

seixos rolantes em escadas de nuvem ou jade

não construa

não atice música azul

ao som de pelicanos pianíssimos.

 

Entre dois copos de tempo

uma horda de vento

e um pote de cintilações amenas.

 

Flutua uma manívora

e uma derrisão de flores lentas flutua.

 

A nuance do cipreste é triste.

 

Eis que perfila no silêncio

trem ferruginoso e atento

com bois de cambraia mugindo

entre flores afegãs e puídos alentos.

 

Que do indomado mar amniotical vê

palavra nascendo do tempo.

 

Que a noite orgulhosa do teu corpo

amigo te tenhas com ternura.

 

Que do umbigo da rosa renasças

e eu te tenhas como amiga

irreal ou não, pura de mácula, nua de alma.

 

 

 

Murilo Gun

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