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Dom, Jun

destaques
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Lua fria, ctônica, campestre

de pedra interplanetária, irmã esma

lasca de terra, seixo que rola, rocha flutuante

barro redondo que me roía a alma (levante do desejo)

amante cadela desolada da noite

distante como manga ou beija-flor

relva enrolando-se na mão da brisa alta

rouxinóis espetados nos espinhos da rosa

curando-se no topo de lápides incólumes

cujos mortos esquálidos (de que é bandeira, cateto, falo)

sobre quem abruptos silenciam como pedras

e o vazio da boca abre-se como espátulas tardias

mortos cujo desespero está devidamente enterrado

cujos rostos estão vorazmente esquecidos (por larvas esmagados)

(por vasto Letes mastigados como amêndoas pálidas)

devoradamente dissolvidos por ácidos vermes precisos

supurado olhar decadente e moído

pelo rolo indecente das horas coagulado

rosto da lua esquerda escorado num banco

(desmonetarizado) de rude praça de mármore pilhado

com um touro de ouro falso flautando

cavo como som de estertor (esgar agônico)

escapando de bocas agonizantes

atiçando ouvidos moribundos

amor arrastando atrás de si dor flutuando

em ondas truculentas e velozes capelas sem limites suculentos

sinos assassinando céu silencioso de abril

rumores corroborando aura de ouro falido

dos homens cujo sonho mais plástico é aurora murada

dor de ser semente (podada) gangrenando lentamente

nomes picados e repicados (numa bacia de navalhas noturnas)

apregoados ao vazio de um púlpito abandonado num claustro pálido

como trapo velho ou bronze de pranto

lua, vagina de pedra olhando o céu de basalto fugitivo e trágico

vazado de pássaros, incrédulo céu de madrepérola vencida

lua gótica cereja a que dobre debica e sino assassina.

Murilo Gun

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