Lua fria, ctônica, campestre
de pedra interplanetária, irmã esma
lasca de terra, seixo que rola, rocha flutuante
barro redondo que me roía a alma (levante do desejo)
amante cadela desolada da noite
distante como manga ou beija-flor
relva enrolando-se na mão da brisa alta
rouxinóis espetados nos espinhos da rosa
curando-se no topo de lápides incólumes
cujos mortos esquálidos (de que é bandeira, cateto, falo)
sobre quem abruptos silenciam como pedras
e o vazio da boca abre-se como espátulas tardias
mortos cujo desespero está devidamente enterrado
cujos rostos estão vorazmente esquecidos (por larvas esmagados)
(por vasto Letes mastigados como amêndoas pálidas)
devoradamente dissolvidos por ácidos vermes precisos
supurado olhar decadente e moído
pelo rolo indecente das horas coagulado
rosto da lua esquerda escorado num banco
(desmonetarizado) de rude praça de mármore pilhado
com um touro de ouro falso flautando
cavo como som de estertor (esgar agônico)
escapando de bocas agonizantes
atiçando ouvidos moribundos
amor arrastando atrás de si dor flutuando
em ondas truculentas e velozes capelas sem limites suculentos
sinos assassinando céu silencioso de abril
rumores corroborando aura de ouro falido
dos homens cujo sonho mais plástico é aurora murada
dor de ser semente (podada) gangrenando lentamente
nomes picados e repicados (numa bacia de navalhas noturnas)
apregoados ao vazio de um púlpito abandonado num claustro pálido
como trapo velho ou bronze de pranto
lua, vagina de pedra olhando o céu de basalto fugitivo e trágico
vazado de pássaros, incrédulo céu de madrepérola vencida
lua gótica cereja a que dobre debica e sino assassina.