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Dom, Jun

destaques
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Que não mereças

dignidades de loa

e não se apressem

em esculpir tua lápide

(porque o céu é lento

e interminável).

 

Leio a lauda da ínfima partida

o laudo que te aloca na cova

e a lousa da beleza finda

 

e indago pleno: em que iambos

sambaram os pés?

 

II

 Eras primevas cantaram Vênus

hoje um pássaro beira o túmulo.

 

Eu não cantarei a paz porque é morta.

Alguma musa arde

por me iniciar

nos jogos lascivos das palavras

no seu infiel leito.

 

Dos pomares de Heléboro colho

belas discórdias, conflitos florindo

e agônicos frutos

das hortas da tristeza súbita

e apenas após do éter

quando a poliuterina cova vire berço

 

corcéis são os vilões que

seus histéricos galopes (aquilesianos)

e trotes de metáforas

ecoem em meu rosto

assolado da duração

o tempo esse ácido

terrível como a eternidade

amo poliuretano

metano bendigo

com os deuses ásperos

não há novas tarefas para o amor

o tema é a dúvida infiel

os fados já não existem

morreram todos os heróis

mas irei à tumba dos titãs glorificar

seu esmagamento por Zeus impiedoso

 

abro esta gestão de agonia

ferida na página branca

 

com apreço oro ao fêmur fraturado

uma oração de esparadrapo

e genuflexos curativos

com a blusa nua

e o desnudo corpete me oferecer

a rua e o amor e o monturo

quando o sono tem triunfado

de seus olhos eu vigilo

para que a insônia não retorne

com sua devastação tão clara.

 

Murilo Gun

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