Que não mereças
dignidades de loa
e não se apressem
em esculpir tua lápide
(porque o céu é lento
e interminável).
Leio a lauda da ínfima partida
o laudo que te aloca na cova
e a lousa da beleza finda
e indago pleno: em que iambos
sambaram os pés?
II
Eras primevas cantaram Vênus
hoje um pássaro beira o túmulo.
Eu não cantarei a paz porque é morta.
Alguma musa arde
por me iniciar
nos jogos lascivos das palavras
no seu infiel leito.
Dos pomares de Heléboro colho
belas discórdias, conflitos florindo
e agônicos frutos
das hortas da tristeza súbita
e apenas após do éter
quando a poliuterina cova vire berço
corcéis são os vilões que
seus histéricos galopes (aquilesianos)
e trotes de metáforas
ecoem em meu rosto
assolado da duração
o tempo esse ácido
terrível como a eternidade
amo poliuretano
metano bendigo
com os deuses ásperos
não há novas tarefas para o amor
o tema é a dúvida infiel
os fados já não existem
morreram todos os heróis
mas irei à tumba dos titãs glorificar
seu esmagamento por Zeus impiedoso
abro esta gestão de agonia
ferida na página branca
com apreço oro ao fêmur fraturado
uma oração de esparadrapo
e genuflexos curativos
com a blusa nua
e o desnudo corpete me oferecer
a rua e o amor e o monturo
quando o sono tem triunfado
de seus olhos eu vigilo
para que a insônia não retorne
com sua devastação tão clara.