Fui peão da Torre de Babel
durante sete anos. Por sal, alho, manjar ávido, árido maná.
Minhas mãos ajudaram a erguer
os primeiros duzentos e doze pavimentos.
Trabalhei nas suas fundações surdas.
Com meu ábaco listrado calculei os tigres idiomas
suas paredes temerosas, rins
do céu alcançará meu desejo.
À ímpia empresa dediquei
sangue, suor, lágrima e vertigem.
Convulsa palavra Babel
minha alma pronuncia sem desdém.
Todo celeste silêncio e metafísico brilho
das estrelas ecoa minha loucura civil.
Vou morar na Babilônia (Ciro me convidou)
banhar-me no Eufrates duas vezes todos os dias
negociar com ídolos e dólares abissínios
de pés de ferro, ventre turvo e papel de alumínio parsa
(porque o barro é de Deus
e o ferro monetário do mal)
bezerros de ouro físsil, libras de sal, quilos de gado, lástima escrava
runas, decênios, objurgatórias, indulgências
e promessas venderei a rodo
aprimorar facas e comerciar pregos e crivos
a assírios (afeiçoados a torturas)
burilar granadas persas (a pedido de Xerxes)
será meu ofício (tarefa fervorosa).
A isso dedico o intestino da palavra a serviço do nada.