02
Sáb, Ago

destaques
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Fui peão da Torre de Babel

durante sete anos. Por sal, alho, manjar ávido, árido maná.

Minhas mãos ajudaram a erguer

os primeiros duzentos e doze pavimentos.

Trabalhei nas suas fundações surdas.

Com meu ábaco listrado calculei os tigres idiomas

suas paredes temerosas, rins

do céu alcançará meu desejo.

À ímpia empresa dediquei

sangue, suor, lágrima e vertigem.

Convulsa palavra Babel

minha alma pronuncia sem desdém.

 

Todo celeste silêncio e metafísico brilho

das estrelas ecoa minha loucura civil.

 

Vou morar na Babilônia (Ciro me convidou)

banhar-me no Eufrates duas vezes todos os dias

negociar com ídolos e dólares abissínios

de pés de ferro, ventre turvo e papel de alumínio parsa

 

                        (porque o barro é de Deus

                        e o ferro monetário do mal)

 

bezerros de ouro físsil, libras de sal, quilos de gado, lástima escrava

runas, decênios, objurgatórias, indulgências

e promessas venderei a rodo

 

aprimorar facas e comerciar pregos e crivos

a assírios (afeiçoados a torturas)

burilar granadas persas (a pedido de Xerxes)

será meu ofício (tarefa fervorosa).

 

A isso dedico o intestino da palavra a serviço do nada.

 

 

Murilo Gun

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