Após os sessenta, seivas se iluminam
hormônios erguem muralhas contra o desencanto
entranhas tornam-se fluentes
rios de anelos adivinham novas volúpias
sedes adormecidas acordam
saltam da alma para firme corpo
por tantos gozos e dores extremado.
Luz dos olhos filtram penumbras
abre paraísos perdidos édens proibidos
que só anos descortinam
e impolutas mãos maculam
com gestos carnívoros originais
espírito e carne dos homens.
Vísceras ficam insolentes
púber mais grato e faminto
fúria de vulcão transforma rostos
em ruas voluptuosas avenidas de gemidos
e olhares etéreos fitam carnes e dias.
Lascívia ronda cabelos
(brancas cãs do desejo)
espírito convoca corpo
a concupiscência se resolve
unhas apontam infinitos róseos.
Sumos todos se revoltam
afloram a poros mais íntimos
flor da pele comemora
ressurreição do jardim do rosto
renovação das rosas do olhar.
Unguentos se apuram
se afiam óleos e lumes
vida comunga com abismo
de onde brota vermelho desejo
alto, velho, primitivo.
Após sessenta mulheres amam mais o mundo
deliram mais que os homens
sono resplandece cores do orgasmo
nada mais é pálido tudo
parece viço vasta-se
cio e a verdade da carne
torna-se flor selvagem.
Volúpia se avoluma se refina o grito
que pequena morte instaura
vergasta pele e alma
Após sessenta anos mulheres tornam-se lobas
éguas mágicas montanhas de uva
celeiros de sonhos frutas maduras para o amor
rebentos de desejo puro.
(Á velha libido, que, se nos anos cinquenta, se descora, agora colore-se
nas mulheres de sessenta
rubedo do desejo
primitivo vermelho).