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Cláudio Veras (de Heidelberg - Alemanha)

especial para O Monitor

Vital Corrêa de Araújo é um poeta de leitores infiéis que rompeu com as normas vigentes da poesia de 1980 a diante e não mais se encontrou com os poetas da época. Até hoje a distância aumenta. Exemplo: Crepúsculo do pênis: capa, tema, poema.

Botando à estampa em menos de um mísero ano obras como Ave sólida, Ora pro nobis scania vabis, Bando de mônadas e Crepúsculo, VCA bota banca. Não diz para o que veio porque não veio para dizer. Nada. De sua poesia ecoa o vazio. É mestre na inconsequência das palavras. Não tem pena do verbo. Para ele, o verbo não tem peia.

Singularizado por livros recentes como Só às paredes confesso (em 2ª edição pelas Edições Bagaço) e Palpo a quimera e o tremor, VCA, desde sempre está a escrever um mesmo livro, até Crepúsculo do pênis. Que exige fôlego, e muito, do leitor que se aventure pela via crucis da palavra poética. Pela selva selvaggia de palavras que é Crepúsculo do pênis, poema para homens sangrados, cabisbaixos, aposentados da volúpia. Trata-se de um livro que exigiria bula, prescrição de hora de ler, posologia de imersão. E especialmente “manual de instrução de leitura” para que o leitor não desembeste do outro lado da página doido de pedra e esbaforido.

De certo modo, as interpolações existentes no livro servem para instruir a sua leitura.

A partir da apresentação inicial da escritora Virgínia Leal Crisóstomo, que em um espaço de dez páginas arrola razões vitais para tal leitura, traçando um panorama da obra do autor com base no livro O destino poético de Vital Corrêa de Araújo, de Sébastien Joachim (Edições Bagaço/IMC – Instituto Maximiano Campos, com prefácio de Antônio Campos), inicia-se um panóplia de intervenções visando à saúde do leitor ao adentrar tal intrincado de palavras selvagens, jângal de vocábulos espinhoso, capaz inclusive de ferir a doce sensibilidade de alguma leitora desavisada com tamanha descomunicabilidade de sintagmas soltos na página como cavalos indômitos da alma. Seguem textos interpolados ao longo dos poemas e capítulos da novela vitaliana de poemas incabíveis no espírito lerdo de muitos leitores desacostumados à poética moderna, envoltos na pátina parnasiana ainda. (coitado deles ao topar com tal palavreado vital que, conforme S. Hansen, lê-lo é mui periculoso, pois “ler VCA causa AVC”.

Como Poética e empiria, Forma poética, Leitura correta de poesia (sic), Vital, qualidade sônica, A poesia segundo Valéry, Nossa Senhora a linguagem, Explicação (ou inexplicação) vital, Angústia de cutelo, Ritmo vital, Poesia, rumor de cristal e chama, além da inteligente orelha de Rogério Generoso. É como se se desentranhasse dos poemas do Crepúsculo do pênis outro livro de ensaios sobre a poesia.

Quanto à capa de Sílvio Hansen e Léo Caldas, é um capítulo à parte.

Sugere-se que, caso o livro seja lido por menor de idade ou este possa ter acesso a Crepúsculo do pênis, se arranque a dita (torpe) capa, e deixe-se o livro sem rosto em prol da inocência infanto-juvenil brasileira. Insisto enfatizando: a capa de Crepúsculo do pênis é indecente. E passível ser exibida na prateleira de livraria?

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Murilo Gun

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