Encontrei uma geometria azul numa tarde de maio comum. O termômetro da Santo Antônio em dígitos astigmáticos indicava 21 graus célsius. Já conheci diedro ébrio. E hipotenusa zarolha. Mas. Tentei tangenciá-la com cuidado.
Espesso. Ela me abordou num encontrão assimétrico. E proclamou sua profundidade. Balbuciou que suas relações e figuras regulam o cosmos. Que para o criador geral fractal ela era absoluta. Seu G(enes) é Deus. E não sei se geometria entusiasma. Porém azul é difícil. Interessa. A mim, tão amorfo.
E de alma oblíqua. (Não iníqua). Da Geometria já fui ídolo. A plana. Cujos trinta teoremas facilmente demonstrava. E o professor (do Colégio Padre Félix) Padre Aníbal, também de latim, rigoroso, exigente, reconhece meu pendor geométrico e azul.
Porque adoro manjares geométricos e pinhas. Porque doces triangulares me apalpam as papilas. Porque minhas mucosas são perpendiculares. Todas. Porque o espírito geométrico de Pascal me fez ler sem parar três anos Montaigne.
Mas o finesse não me abandonou totalmente. Sofro porque não passei do primeiro teorema de Pascal. Por razões que coração conhece bem. Ultrafilosóficas.
Porque degradei-me sou poeta ageométrico. Energúmeno ambíguo. Tristemente hermético, incerto, não probo, obviamente, com as palavras (que querem ser parnasianas, mensuradas, a soar bem). Traio o verbo comum, operante, austero. Mesmo operário.
O próprio verbo duvida de mim. Porque em Garanhuns escrevi Ovos de verbos. E me alastrei de pusilânimes lamúrias. Me incondestei. E pululo. E escombro. E concentrico porque não concavo. E não existe, ainda, o verbo concavar (tornar algo côncavo) e concentricar.
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