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Vital Corrêa de Araújo

A poesia (neopos)moderna foi impressionista. Poética era a realidade que (im)pressionasse (a alma ou os olhos d)o poeta de metáforas sucessivas, isto é, mutabilíssimas porque impressões.

Para os antimordernos (a maioria gritante e esculachada porque tem medo de o ser – e do ser do futuro diferente), o real não passava de variedades permanentes, conservadas (no formol da fôrma) acabadas definidas tradições que se desdobram (incessantemente a mesma coisa, versos replicantes, clones do que é ou já foi) no céu do tempo.

 

Tudo o que fosse independente (ou diferente) do ato de percepção do existente não havia. A impressão era, como os sentidos, ilusão.

Poeta não está atrás (perseguindo ou escondendo-se) de mundos objetivos, dados em definitivo, concreções usurárias, mas de novas realidades (que alimentem o espírito humano) propiciadas pela palavra (poesia morada do ser). Ele não representa o que há. Apresenta o que haverá. (In)certamente.

Poeta não faz história, faz futuro. Poesia advém da raiz grega com acepção de criador. E não mero imitador. Ou repetidor de realidades esgotadas. Sonetinando-se sem parar para ver que o futuro já começou.

Por que poeta não diz logo (tudo)? Por que a frescura (da poesia moderna é difícil)? O poeta (neopoeta) tem que dizer o que as palavras ainda não disseram. Mas não em prosa que é por definição e natureza inviável.

Por que indizer? É que ele (poeta) não quer desvalorizar o leitor. Deixá-lo passivo, inerte ante tanta clareza. Claridade cega (o sentido). É passiva ou age desnudando de vez.

Poeta salta palavras meio soltas ou dissolutas, meio ínvias ou verazes em demasia. Cabe à mente (quente ou fria) de leitor ligá-las, contê-las, apressá-las. Amalgamar. Atiçar. Alcançar o matiz. Cravar a nuance. Senão leitor seria perfeito idiota, lendo  o óbvio (sorvendo o mastigado, obtendo o dado). Cabendo a ele só ulular. E nada mais.

É preciso revalorizar o leitor. Sofisticá-lo. E não considerá-lo como passivo, capaz de tudo entender em poesia (past) porque a poesia é fácil.

As palavras no poema devem ser independentes do seu valor linguístico estabelecido (por gerações ou degenerações).

Há séculos. Ou meses. Livres de suas más (ou boas) relações. Peias. Intacto o hímen filológico. Virgem para a prenhez poética. Para o parto (sintagmático) do leitor (paradigma final). Para o gozo maiêutico. Para a catarse do Juízo Final da poesia.

Nada de ser o poema representativo, porque na república (platônica de hoje) poeta não entra. Entra no limbo plutônico. Fácil e gravemente.

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Murilo Gun

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