Heráclito, o mais ilustre dos pré-socráticos, considerado o obscuro, por seu ínvio mas preciso pensamento, caracterizou sua filosofia (mesmo antes de Sócrates conceituar filosofia, como amor ao saber), dialeticamente, ao opor-se de frente (e de fundo), ao pensamento eleático dominante, a Parmênides de Eleia, cuja teoria centralizava-se na imutabilidade do ser (a não mudança era seu dogma).
As coisas como são e assim serão. Daí, a lógica aristotélica sobre o ser e não ser, um ou outro. Heráclito influenciou Hegel... e Heidegger. Deste que li, em 1975, quando cursava filosofia, o Heráclito, obra de Heidegger, foi me presenteado pelo dileto amigo (ainda hoje maior) Jovenildo Pinheiro, historiador excelso. “Eu me declaro da linhagem desses que do obscuro aspiram ao claro” (Murilo Mendes).
Nietzsche, Jung, Splenger, Tobias Barreto, dentre muitos pensadores eminentes, foram influenciados pelo Obscuro filósofo grego genial.
Heráclito, o criador da lógica dialética, o filósofo do devir, do contrario, do movimento, da mudança (e do movimento da mudança), do fogo, da força, do fluxo, do instável, do “panta rhei”(tudo muda), disse: “ninguém se banha duas vezes no mesmo rio” porque tudo muda, a mudança é o motor vital.
Para ele, a matéria última, primordial origem comum de todas as coisas, era o fogo (não o fogo físico, mas fogo sutil, puro, filosófico... e não aquele percebido pelos sentidos).
Heráclito foi o primeiro pensador a duvidar dos sentidos e das aparências e ver as coisas em transformação, no tempo e no espaço. O que permanece apodrece.
Ele buscava a essência, nunca a aparência do real, seu pensamento ia na direção da realidade profunda.
A propósito, vale enfatizar: a dialética do estagirista diferia da de Heráclito, que assimilava a identidade à conversão mútua dos opostos (ou síntese dos contrários). O que influenciou muito Demócrito, objeto de uma tese universitária de Marx.
Quanto a leitor de poesia absoluta, parafraseando o divino peripatético, o demônio estagirista, ele não é leitor qualquer, mas quem é cultivado nessa matéria. Isto é, leitor apropriado – estranho e instrumentado ante tal, preocupado não com o conhecimento da emoção, mais sim com a emoção do conhecimento advindo da ação (e recepção) da leitura.
É que poeta absoluto se dirige às estrelas (numa ação sensata) e seu leitor penetra o cosmos do verbo total. É como que PA fosse leitura para “sophoi” (pessoas sábias ou devidamente esclarecidas).
A poesia deve ser um em si desconectada de qualquer emoção superficial, a nível da pele. Algo em si, portanto, fora do âmbito do eu (banal e facilmente corruptível).
As reitoras suscetíveis de balizar as virtudes da poesia absoluta são o poder metafórico do verbo e o futuro da palavra.
Insubmissa é a vida da palavra da poesia que exacra leitor fraco, zumbi do facebook. Pois tem a ver com a vida humano e tem haver do porvir do próprio homem.
A palavra não resiste submetida a escanções automáticas, submissas a ordens gramaticais infames e milenares. A palavra existe na PA (que dirige a decisão). O leitor absoluto deve ser o singular portador do facho intelectual (hoje tão apagado). Ele deve ser o si reflexo do mundo total (humano e atual) e carregar em si a responsabilidade poética de interrogar e resolver o mundo (o todo, inclusive ele) com um lápis, uma alma e a mão (porque o homem é um sinal – e a vida semata).
Antes de tudo, o leitor deve sobrepujar a coação da poesia dominante há mais de cem anos (e que não veio para ficar). Vencer o óbice da inibição é vital.
A perspicácia (e insistência) da incerteza do sentido é fruto da perspectiva do leitor em sua pertinácia de ser além de qualquer letra ou espírito. Eis onde reside a peripécia do leitor que se quer absoluto. Que une a consciência em si com a consciência de si, na empresa (ou aventura) da poesia absoluta. Do épico, ao trágico, ao ético se desdobra tal ato lírico por excelência de empreender o poema absoluto.
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