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Sex, Abr

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(DEPENDE DA SAGACIDADE DO LEITOR)

Intertextualidade (expressão e conceito introduzidos por Julia Kristeva em 1967 num artigo sobre Bakhtin)

evoca o texto na qualidade de tecido, trama, costura, rede ou lugar onde se cruzam enunciados provenientes de vário discurso. Evoca, pois, a relação cruzada, tramada de textos – ou a escritura como palimpsesto, segundo Genette.

 

O intertexto (poema) ou a intertextualização na composição de um poema pode ser explícito ou não. É explícito ou com caráter centrífugo quando brota expressamente como citação para o leitor assim o recepcionar, através de “mercadores” (epígrafe, alusão, nuance, nota, obs., parêntese, rodapé). O intertexto implícito (de caráter centrípeto) não aparece marcado, dificultando ou encobrindo o seu reconhecimento (é o meu caso poético), só possível a leitor sagaz. Por que poeta, oculto ou não, não marco ou manifesto as citações ou empréstimos? Não é plágio, mas literatura. O poema todos somos autores, especialmente leitor competente, alguns mais que o poeta – e que ao hermeneutizar o suplanta. Posso citar tais (alguns): Sébastien Joachim, César Leal, Rogério Generoso, Admmauro Gommes, Marcos Lucchesi. Geralmente, recontextualizo – e muito. Muitas vezes, me engano e não mais distingo o préstimo, origem, situação, fonte. Revitalizo assim a tradição. E a enriqueço muito. E não me repito. Costumo dizer: já publiquei cerca de 5.000 poemas, e nunca repeti – nem passei por perto de, uma só imagem. Eis o que é a técnica (vital). E essa revitalização, esse ato poético de trazer à baila texto vivo, passado, adormecido, essa atitude tornam-se inócuos – despercebidos, se não contarmos com leitor sagaz, que de certa forma complementa o poema, dá-lhe curso, e torna-se maior que o poeta, ao interpretar criativamente o poema.

Essa é a prática literária da modernidade poética que desconhecemos. Esta foi a prática de Mallarmé, sendo O Livro um intertexto total. Ou o mesmo Livro que Borges escreveu. Ou Os cantos de Maldoror – ou de Pound.

Derrida dixit: o sentido de um texto o encontramos em outros textos (não nele mesmo). Ilustra o afã de intertextualidade que nos persegue. E explica a orfandade da poesia brasileira atual. Porém evite (evito) o intertexto lugar comum, pasto de ene poetas, pior do que plágio (bem ou mal feito). É o que acontece sempre.

Na verdade (e sinto muito isso), se a citação implícita, escusa, sinuosa não a perceber leitor (sagaz ou não), o texto não logra seu propósito, o poema se enterra em chão hermético, urna de metálico hieróglifo. É o caso vital. Não se estabelece o diálogo (a ponte) entre pré-textos, textos e pós-textos. Porém, no meu caso, acho que o leitor não entabola (por deficiência da recepção poética da modernidade) contato íntimo, interior, sutil, com meu texto-poema. E perde (ele), não eu.

Tenho dito (ou indito).

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Murilo Gun

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