Entrevista desentranhada do livro SABEDORIA OU MEDIOCRIDADE? DIÁLOGOS NO REINO ENCANTADO
DAS ÁGUIAS de Reginaldo José de Oliveira, pelo coeditor Admmauro Gommes.
Rodrigues acreditou numa nova proposta de vida construindo o Reino Encantado das Águias, um local dedicado à reflexão, cujo objetivo maior é reencantar. O ambiente é paradisíaco e fica localizado na Agrovila Liberal, Município da Água Preta, Pernambuco, Brasil.
REVISTA URUBU: Qual seu posicionamento em defesa da fauna e da flora de nossa região?
JOSÉ RODRIGUES: A nossa proposta ambiental, já em total andamento, foi aumentar o plantio de frutas que faz parte da cadeia alimentar dos pássaros. Proibir a caça, espalhando avisos por vários lugares informando sobre a legalidade da proibição e as sanções cabíveis, no caso de agressão ambiental. Para que houvesse eficácia no cumprimento das ações de preservação, eu mesmo cuidei de fiscalizar e efetuar um trabalho educativo.
REVISTA URUBU: Por que você abraçou esta causa, saindo da cidade?
JOSÉ RODRIGUES: Abandonei a cidade por conta dos grandes problemas enfrentados no dia-a-dia, pelas deficiências estruturais, tornando-as cada vez mais inviáveis para se viver com qualidade, pois há um descuido e um abandono crescente da sociabilidade nas cidades. A maioria dos habitantes sente-se desenraizada culturalmente e alienada socialmente. Predomina a sociedade do espetáculo e do entretenimento.
REVISTA URUBU: O desenraizamento tem afetado os relacionamentos sociais?
JOSÉ RODRIGUES: O mundo virtual criou um novo habitat para os indivíduos, caracterizado pela falta de contato pessoal. Isso faz com que o tipo de sociedade do conhecimento e da comunicação que temos desenvolvido nas últimas décadas ameace a essência humana que se caracteriza pela existência das relações. Vivemos em um mundo de abundância material. No entanto, essa abundância não consegue ocultar as imensas carências imateriais: estéticas, sociais, filosóficas, espirituais e religiosas.
REVISTA URUBU: Essa abundância de conhecimentos e riquezas materiais não devia melhorar as condições de vida humana?
JOSÉ RODRIGUES: Devia, mas quanto mais melhora a situação financeira da população, mas enfrentamos drogados deprimidos e suicidas. Isso é um paradoxo. Convivemos no limite entre a sabedoria e a mediocridade; a grande questão é escolher o caminho que devemos seguir. As soluções para as adversidades que surgem a cada dia não são eficazes porque todos os indicadores apontam para o agravamento da crise.
REVISTA URUBU: Caberia uma ação de Governo, para enfrentar este problema?
JOSÉ RODRIGUES: Os governos em seus vários níveis sabem disso. Porém, não divulgam as questões com maior profundidade para não criar uma onda de tensão no meio social. Por isso, estamos aqui para estabelecer um diálogo reflexivo sobre estas questões, e procurarmos o melhor caminho para enfrentar as adversidades. O desencantamento do mundo, concretizado na generalizada racionalização das ações e relações, processos e estruturas, coisas, gentes, ideias, atinge o indivíduo na sua essência. Em qualquer parte do mundo, as cidades estão se tornando inviáveis para se viver com qualidade. Nos últimos anos, milhões de carros entraram em circulação, tornando a mobilidade caótica; os espaços para estacionamentos são deficientes.
REVISTA URUBU: E qual o resultado disso tudo?
JOSÉ RODRIGUES: Muitas cidades cresceram sem planejamento e, atualmente, amargam questões relacionadas a saneamento, distribuição de água potável, atendimento à saúde, violência de todos os tipos, questão de mobilidade, tratamento do lixo e outros problemas.
REVISTA URUBU: Na sua opinião, ainda há uma saída para a Humanidade?
JOSÉ RODRIGUES: Como diz o Coronel Reginaldo, o reencanto só acontecerá através de atitudes que possam nos levar a buscar harmonia, através da formação de elos humanos e a construção de novos paradigmas.