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Qui, Abr

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Rhalyne Moura/Amaraji

Ela é uma das tantas Marias que existem nesse mundo, mas não é apenas mais uma Maria, tem o dom de fazer pessoas felizes e existir já é motivo suficiente para tal. A vida lhe reservou dois casamentos e dezesseis filhos dos quais três não sobreviveram, os outros foram com sacrifícios e renúncias, bem criados.

O semblante sempre sorridente esconde a vida dura enfrentada para chegar aos oitenta e oito anos tendo a cara de uma criança que acaba de ganhar o brinquedo tão almejado. Ser iluminado, alegria constante. Com um amor que não cabe em si, altruísta por excelência, abriu mão dos seus sonhos para lutar por seus filhos e fazer deles pessoas justas, seres humanos sensatos e mesmo que essa assunção se desse em prejuízo de suas metas, ela arriscou sem medo, esqueceu de si e viveu por e para eles, alcançou sucesso pleno, o que, para ela foi consideravelmente satisfatório e está para contar a quem quiser ouvir o quanto Deus foi e tem sido bom com ela.

 

Na missão nada fácil de sobreviver nessa vida tão arriscada, diria que ela tem se saído muito bem. Tem as maiores e melhores histórias para contar e é capaz de fazer com que qualquer pessoa queira permanecer na sua companhia maravilhadamente contentados com o que ali se escuta enquanto ela fica deitada no sofá menor, recostado na parede logo abaixo da janela da sala. A mania de só gostar de coisas simples faz com que todo mundo tenha grande dificuldade para presenteá-la. Teimosia e perfeccionismo são traços marcantes da criança idosa que adora fazer arte sem precisar se esconder, não abre mão de cozinhar no fogão de lenha e ainda faz questão de lavar roupas na lavanderia da área de serviço, além de tudo, faz o melhor doce de mamão com coco e a melhor cocada do mundo.

É carinho que não se explica, amor que não se mede e que se intensifica em cada olhar, é o silêncio de quem medita antes de articular, é menina, mulher, mãe, avó, bisavó, trisavó... é de aço e de flores, é um amor divino através do cuidado humano. É ela a maior prova que no sexo frágil há uma virilidade jamais vista. Deixa para trás os maiores guerreiros da história com a sua vida de superação e torna-se uma guerreira realizada. Com ela eu aprendi que o maior conhecimento do mundo não está presente nos livros, nem nas enciclopédias inteiras, mas no amor de quem se ama. Aprendi também que a morte jamais apaga o que alguém foi, que eternidade é além-tudo, ela me ensinou isso e continua a mostrar os caminhos e as verdades, a melhor herança que alguém pode deixar ela vem construindo há muito tempo e quando se for, não precisará de testamento porque tudo de melhor que ela tem já foi dado. Foi com ela que eu entendi que a força vem do coração e não dos músculos. Ela é para mim a imagem de Deus eternizada no mundo. O anjo que me guarda e ilumina.
Depois de contar a história dela, apresento-lhes Maria José Soares, ou simplesmente Dona Neném. A mulher mais guerreira que eu já conheci: minha bisavó.

 

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Murilo Gun

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