(a publicação do íntimo) Qual Montaigne, afirmo ser este um livro de boa-fé, escrito para mim mesmo, que expressa o íntimo, e o publica.
Não o move interesse para com terceiro ou qualquer outro, ou melhor, qualquer um que não seja EU MESMO.
À posteridade, U jamais interessaria, porque sua matéria é vã e íntima (além de fatalmente pessoal). Tudo o que U carrega em seu intestino textual é indigerível.
Detectam-se(ou defectam-se) nesses versos “alguns traços de minhas seduções”, ou mesmo o caráter mau de minhas ideias, seus rostos mais secretos, nauseantes fantasias e vilezas próprias do ser humano e vital.
Como não almeje favores hipócritas do mundo – e não pretenda alimentar fantasias ignóbeis dos leitores ou atiçar demais sua desimaginação, de possíveis e desastrados ledores que o sequestrem (a U), aliciem ou o desviem dos seus ilegítimos fins – e só a mim, o autor, afete, com sua canga francesa de afetos, U é um livro triste, crasso, ímpio, impudordenado, estéril, convicto, desumano, mimético, eslavo. Mas, não profano, porque dirigido ao semelhante e ocasional leitor. Numa palavra, áscuo.
Poemas nele contidos apenas retratam meus enojados defeitos, minhas náuseas mais acerbas, (ou o som de minha víscera atenta), granjeados ao longo de périplos escuros e solitários, pelo chão prófugo de minha pobre alma. Deserto páramo de meu espírito vão.
Eis pois, exposta, nua e devassa, a matéria-prima do livro, hipócrita leitor! E U é um livro nu.
Espero que nunca o leias, a fim de não te assustares com a ferida do reflexo em tua máscara fútil, num ímpeto profano e curioso, bem feminino.
Nem mesmo eu – o idólatra autor – sei se lerei tais poemas, especialmente porque são ilegíveis. Inacessíveis fortalezas de palavras insensatas.
Que provável leitor, faça-se juiz de suas intenções, e decida por nunca ler-me, com astúcia e vontade – é o que clamo neste prólogo incontido, ressalvando, no entanto, que qualquer situação, trecho, memento, momento de percepção, beleza, reconhecimento ou ironia, que, por acaso, flagrem-se, é mera coincidência, conforme intenção direta do autor.
O futuro póstumo ou a memória dos imigos decidirão sobre o montante real ou maré d’alma do obrigatório encalhe destes míseros 500 exemplares.
Obrigado!
Não muito obrigado!
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