Como e por que comecei com essa poesia intragável, impública, pouco pudica, não republicana (para o BRA),
inconsequente, impolutíssima, putaina, imprevidente, incaracterística, indefensável e incoerente sobretudo blusa encharcada de descor? Simples.
Quando me sentei sentindo-me que ia a fazer o primeiro soneto (simples ou não), mudei de ideia (e de cadeira), rasguei de súbito as rimas – cuidadosamente selecionadas e arrumadas com arrimo ao lado da página – , desritmei-me por precaução despojado de toda a vontade sonética... e resolvi ser complexo. E fui VCA. Deixei a palavra desnudar-se como uma mulher e, ao vê-la nua, vesti poema de sintagmas turcos ou cartagineses, sente sentado a sombra do livro (e era possessiva e bela sobretudo ávida) e vi por uma nesga do olhar (e de janela) a lua desabrochada por trás das folhas mais altas do sambaqui, o que me fez ver toda a nudez da palavra – e relâmpago verbal iluminou-me a velha alma. Soube então ter uma vida interior necessitando do silêncio que antecede poema complexo. Que a realidade vista do lado de fora era mera e aparente muito. E que a uma boa dose de solidão diária me obrigaria vida afora. Eis a via ou veia à poesia absoluta.
Dessonetizado, comecei a uivar. Como Cioran. Até hoje (15.08.2015). Mas não perdi a desconpustura: continuo sabendo fazer líricos. Sou urbano puro e rural. Não ameaço a comodidade (nunca) fica em pane. Minha poética não é imoral (nem imoral). Moralidades à parte, imoralidade em baixo. Com Joyce luto por silêncio, desterro (solidão jesuística ou não, ou melhor, monacal, com claustro e cela com cilício, num mosteiro de São Bento) e astúcia.
Meu poema é enraizado em desenredo, anatemático (cheio de anátemas apóstatas), incluso, nada diz, então cálice e vinho (e o pão de Holderlin). E um poema sem aspectos (exteriores) e fora da ótica da ternidade, pois não é fraterno nem externo.
É farasaico, acho. Meu poema vital.
Sua realização (potencial e não) se opera fora da zona mortal de qualquer materialização formal. (Embora empregue lógica dialética bebida em Henri Lafevre – o filósofo urbanista, que desove a cidade por vir – que aprendi com Mao filósofo).
Com historiador, aprendi a não reproduzir a história (como farsa ou não) nem papel repetí-la em boa hora.
Cada poema é clandestino, brota direto do ID, sem egoístas amparos. É puro. Antes de ir ao sacrifício da página, habita o cérebro sem trégua. Exijo me interpretem, desconjuntem, critiquem, e mandem, reptem cortem, anulem o lado poema antes de lido. Eis a lida da poesia absoluta. Incrível?
A chuva do poema busque nos neurônios nus.
Inexegético... e por aí vai... é rocha ler Vital, posto que principalmente, ler VCA causa AVC (já houve 3 casos comprovados de morte súbita sobre a mancha absoluta da página). Então...? E não é poema metafísico. É poema dialética, ao contrário.
À lacan, à Zizek, à la carte? Escolha o aspecto da alma da leitura vital.
Alguém apontou uma dialética paradoxial. Que tal? Embora as peripécias do verbo alada absoluta sejam dignas de alguém Ícaro moderno.
Nada o disseico ou ilidíaco! Só osso de símbolo.
Tem a forma do mundo remoderno.
Para a PA todo Penélope é infiel. E ladina.
Quanto mais o tolo Ulisses demorava, mais príncipe ele sodomizava.
E Odisseu, quando, após o morticínio principesco, com ele dormica, pegou baita blenorragia Vide Plutarco.
De tais inversões substanciais e formas, vive a poesia absoluta (PA).
Sem forma fixadas, conteúdo é essência.
O poema absoluto advém de um parto (meio maiêutico talvez). De parturição no berço branco página. Por isso, é vital.
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