Uma das gestões para separar o joio do trigo absoluto da poesia consiste em medir o grau de desromantização aferido,
alcançado, realizado pelo poeta do século XX. E XXI. Quanto mais drástica ou elevada tal condição, mais o poeta, desvencilhado da afecção romântica, é moderno, atual, novo, desconectado do frêmito romântico tradicional. Que, desmanchado seu apogeu, ao decair, torna-se anacrônico.
Rilke foi um dos primeiros poetas totalmente modernos. Mesmo morto em 1928, deixou uma obra – despida da influência das vanguardas que já pipocavam, porém indubitavelmente moderna, com o noveau frisson presente, dando início à tradição que desembocaria na poesia absoluta, ele próprio um dos mais renomados dos poetas absolutos.
Ao dar de ombros – desprezar, relegar a pequeno plano – o tal ego poético sempre comovido, ao desencantar e desentocar o eu, carnavalizado e retórico – em prol da forma objetiva subjetivada , ao demonstrar pleno desinteresse pelo afeto pessoal que move poeta à grei dos sentimentos. Ao desistir de expressar o que sente atado ao ímpeto do íntimo viciado em publicação, Rilke concedeu singulariedade e inaugurou um regime novo absoluto na poética do século XX.
Dizer, ditar, vomitar, expressar sentimentos em poesia é inválido. Invalida a poesia e o poético. Anacroniza o poema e o descontemporaniza.
Por que é vital o rompimento com o romântico?
Romper com o romantismo, essa força que singularizou uma época e influenciou gerações, submetendo todas a seus ditames – presentes e futuros – era não só estratégico porém inovador e suficiente ao parto da nova poética.
E é essa disposição de se autonomizar que falta a toda e vasta poesia brasileira.
A expansão desmedida do âmbito lírico foi (era) a condição sine qua non da explosão do novo no lombo exausto da poética velha que só.
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