O inteligente filósofo e crítico (que Deus o teve) Euryalo Cannabrava (com quem sonhei degustar cana maneira)
é eloquente quando conceitua a poesia. E nisso é precussor no Brasil. Dixit Euryalol.
“O símbolo, na metáfora ou fora dela, constitui veículo de ideia ou conceito. Daí, seu feitio convencional oposto à naturalidade espontânea da imagem.
A construção simbólica revela-se sempre heterotélica, isto é, refere-se ao objetivo simbolizado (finalidade), que não se deve ou pode confundir-se com o próprio símbolo (mero meio).
A imagem (poética), pelo contrário, é autotélica (autônoma), tem o seu fim em si mesma, não se refere a nada (fora) que seja estranho a suas partes ou composição. Ela, a imagem poética, vale por si própria, independentemente de referência ou intenções, confinadas sempre dentro de seus limites autônomos, sem exteriorização ou referência externa qualquer. Em prosa, mesmo com teor poético, a imagem passa a funcionar como metáfora descritiva.”
Essa longa tirada... encontrei num velho puído caderno (do MEC, de 1970) rabiscada... é vital à conceituação inicial de poesia absoluta.
As palavras apenas informam. Eis sua utilidade vital.
Então, no poema, há adesão, por hábito, ao teor ou capacidade de informar das palavras utilizadas necessariamente. Como escapar disso? Compreendendo que é a forma (não a palavra) que comunica na poesia. Ao contrário da prosa. Daí, Jakobson: a poesia não está na mensagem, mas na forma desta.
A qualquer obra de arte aplica-se o rígido e vital princípio da total e completa impossibilidade dela ser comunicada (traduzida, informada, explicada, explicitada) por meio de palavras. E a palavra é meio de dizer, veículo de informar. Há palavra e palavra.
A comunicação poética, então, no caso, não está nas palavras (no que elas digam ou se proponham a tal, etc), porém no poema in totum, em cada uma e no seu todo de palavras, as quais perdem (podam) o vínculo original de descrever, explicitar, redizer etc.
Todo ditame prosaico, caso carregue certa estranheza ou impossibilidade de entendimento ou sentido, tem-se como inferior. Na poesia, é algo quase absoluto.
O inusitado em prosa é perfeito em poesia. Isso porque a linguagem referencial é exigente logicamente, utilitária, instrumental, objetiva e realista (embora mantendo aparências). E tudo muda de figura quando se trata de linguagem poética.
A busca poética é da essência lírica da palavra. E essa essência não está na palavra, mas na forma da palavra tornar-se poema.
Esse jogo é perigoso. Pois pode explodir ou desvanecer a linguagem poética. Nisso reside o ser do poema absoluto.
Adendo: A poesia absoluta é antipoética, no contexto da tradição vigente. Como A educação pela pedra. Fazemos portanto modernamente antipoemas.
A diferença capital entre linguagem poética e prosaica consolida-se no fato de que, no poema, as imagens – e suas energias expressivas potenciais ou realizando-se – estão presentes, são parte integrante do poema... e não apenas descrições, como no discurso prosaico.
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