Que na carne
se reinsculpa o sopro
e do barro das criaturas sobre
matéria e cansaço para o espírito, ingrediente alto
para que o verbo faça-se poema.
Que da voz agonizando modele-se grito.
Que se hasteie do coração do homem
dom súbito da liberdade
rogo que Prometeu roubou da garganta dos deuses
aclare-se assim (o poema) veias escuras do mundo
ilumine as celas da alma do leitor
relâmpago de Zeus reconciliado.
Que no mármore
se memore meu nome
nele cinzele-se
cada músculo da alma
cada pulso do instinto
que ressoe do mármore antigo
cada sulco da dor irrevogável
na memória mineral de meu rosto
em laivas de pedra crave-se
e o nome se alastre
para além das aventuras do corpo
e comissuras da face
essa prova atenta da senectude humana
e velhice do tempo.