O sublime e o horror são irmãos (em Alberto Lins Caldas). Em comum, têm o assombro.
A arte é produto do assombro, do soberbo maravilhamento do ser, geradores do desconcerto, a arte é filha da imaginação (quando não falha desastradamente, e o que ocorre demasiadamente).
Assombrar é a usina da arte. Dínamo que a move... moinho que destila o absoluto estético.
O desconcertante, a descontinuidade, o desvio, tudo o que destempere a arte (isto é, desmanche a têmpera do simulacro). E a torne não digerível por excelência. O que facilmente se come não dá gosto. Porém, dispepsia.
Desimediato, desbanal, indigerível, ao primeiro sorvo de vista, à primeira dentada, é a arte verdadeira de nosso tempo. Tem carinha (leitorzinho) que abre um livro meu (não tão hermético assim) e à primeira vista cospe. Fecha. Idiotamente idiota.
Embora, digamos, muitas vezes é um mau bocado uma escultura ou um poema(meu).
Ser (ou não sê-lo) incomestível é a mais forte função, o mais urgente e vital requisito que caracterizam o objeto da arte (sua alma indigesta).
Arte antecipa. Por isso não pode ser, voltar-se, eternamente idolatrar, amar, preservar-se o passado (como a Machado). Isso degringola o presente. O Brasil tem magníficos romancistas, logo e em todo o século 20. Mas: nenhum (ou nenhuma) chega (beija) aos pés sacros do Mestre eterno. E todos (escritor e leitor) devem lavar e oscular os pés machadinos. Além de o maior, é o inalcançável. E pronto. Eis a doença infantil da literatura brasileira. E tal enfermidade nunca nos dará Prêmio Nobel. A não ser póstumo a Machado. É uma boa, ideia, como caninha. Dizem que um acadêmico novo da Academia sueca, reclamou do Brasil nunca ter chegado lá, e pespegou: por que não conceder a láurea a Machado, que ele leu em tradução. Retrucaram: Machado morreu no século XIX.
O normal, o visível, o previsível fácil enquanto visível, nunca se tornam(rão) objeto artístico, pois a arte mostra, expõe, desvela o invisível (ainda ou sempre). Arte serve para mostrar o invisível através. Das coisas visíveis (a alma pela pele). Pastas, tintas, pinceis, palavras, gestos plásticos, verbais (intuições e concepções do mundo, da vida, do homem, da sociedade, de si e do outro), visam revelar o que existe por trás do real (aparente ou não, cosmético ou não) do mundo, e que recobre todas as coisas.
Forma informe informa.
A propósito, minha poesia (ou melhor de VCA) é um horror.
{jcomments on}