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Qua, Abr

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Se poesia se faz, faz-se com o mínimo de palavras mínimas de sentido máximo, então... viva a filosofia do irracional absoluto, que abriga (e obriga a se expressar)

a essência do id, porque cada sintagma vitorioso é uma purga desinfetante para o intestino da palavra (do verso salubre) e o verbo existe, porque o curaram poetas fazedores. Poesia é fazer, não apodrecer o verbo.

 

Pois poesia é modo de bom usar a palavra (puella mea do poeta) para indizer tudo o que não seja óbvio, estabelecido, passivo exatamente. E tudo indizer é dizer nada ou não ousar dizer, porque se quis (tipo dí-lo, porque quí-lo).

Ao inverso da prosa, verso é o como indizer coisas verbais (ao extremo).

O viço (e a têmpera sem cansaço)

da fúria poética não vem do tenro calor

da palavra, mas da frágua viva do verso

da prometeica brasa criadora, fogo verbal

do ventre da vida da língua (ou palavra)

do precipício e da borda

irrespirável do vulcão O. Marques

da gusa da lágrima vertida em moldes da alma

do verbo vertiginoso acrobata da página.

 

Da lua ovalada (ou vulva enluarada) vem a poesia

do ovário do céu fruto escuro

(que Pather Hermes iluminou

do divo sêmen, dando a unção hermenêutica

ao cio verbal).

E das abissas entranhas da luz quântica

vocábulos de sombra alquímica arrancou

sem fórceps de sílaba ou chuços de rima

(só vezos de poesia).

 

Das ágeis águas originários e miletas da poesia

úmido canto veio, viço quântico veio

minação de verbo vital e renhido

verbo de barro vindo do barro do verbo.

Que  bendito indito o poema!

Sonoro fonema ao ser da palavra amalgamado

para exato indizer o que dizível virá

a prosa dizer despudorada ou não

(ou indizer o que de dizível diga a prosa)

cósmicos estilhaços de silêncios e letras

poeta lança (incerteiramente) no espaço

da cinza lauda com fúria de sentido e som

que hesita e ali no corpo ainda ázimo

do papel sílabas instila (hiato desliza)

aliterando vocábulos, acasalando consoantes

extraindo do silêncio absoluto e apto

musicalidade verbal  irrecusável.

 

Enfim, começa o sal do salmo da alma

enfim conheço a seda do espírito salino

então o ato da palavra poética ritual

e absolutamente desencadeada na página.

 

“Poema não diz – dixit Baudelaire, nada

pois nada é, ou melhor, é tudo”.

 

ADENDO

Ao arrimo da rima – esse muro ou interruptor que detém (ou interrompe, descontem) o imaginário poético humano – oponho a liberdade que jaz ereta sob o fardo genitivo da palavra (É O. Paz na livre luta pelo poema, prélio divo da palavra. com o que elas, as palavras ainda não disseram). Oponho o descompasso, a ambiguidade oponho, o paradoxo total, a assimetria hermenêutica vital, a maiêutica criativa, o tônus irrazoável, o eflúvio impassível, a impossível medida,  trena ambígua, arbitrio vital e a paixão infinita pela palavra-em-poema.

Oponho o romaneio e todo o credo luxurioso, todo o incrédulo estribilho, o avesso da luz, o brilho dos matizes e a erma fecundidade do verso medido (ou enfermo) e todo o coro das vezes contra o unívoco  verso prosaico consentido oponho. Oponho a moira ao claro trovar poético.  Oponho o coro dos ossos, não das vozes, contra o poema combalido, que é o poema brasileiro a estertorar em campo aberto.

 

NOTA VITAL

Quando Eliot dixit: não existir verdadeiramente verso livre (VL) “para quem o pretende para tal”, estava a dizer: o verso é liberdade para quem  não pretenda escravizar a imaginação, estaticamente dirigí-la à moda aritmética, reduzí-la a dígitos, numa desiluminação da lâmpada pitagórica a modo de treva. Eliot foi só mais uma vez nova-mente irônica voz (e em sua falácia escorregaram os poetas brasileiros - com exceção de quem – ou quens?).

O VL whitmaniano é vital (não letal). Cabral, Bandeira, Murilo, Jorge, Cecília, se não foram imedidos do verso, foram sim descomedidos da imaginação.

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Murilo Gun

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