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Qui, Abr

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Como você se sente hoje, traste do feicibuque?

Doravante, te trato como traste alienado. Político, cultural, literário, para dizer-te: sou igual.

Além de ser suficientemente impotente, sou vesgo e inadequado, nada sagrado, delével, só, nada entusiasmado. Nem dínamo, nem imã. Só palavra.

Rijo, lasso, hirto, baço e outros adjetivos desvitalizados, embora assombrado com a perplexa disposição da genitália, eu morri: felino, feinho, inviável, vital.

“Todo sedas e renda rosa perfumado, com calcinhas airosas bordadas com meu nome em pleno êxtase devoluto, morri. A caixinha das tentativas infrutíferas esgotadas. Pelo contador gêiser do impulso vital arrombado”. Pela catraca do tempo esmagado.

Para que poesia, se não sirvo mais à natureza?

Na cabeça, um boné idiota. Para mascarar a clareira da calvície grisalha

E a água foi devorando o amor cansado.

Preciso de vastas mulheres, não propriamente belas, mas nuas. Não me indigno mais. Como não mais posso tê-las, faço poemas verdes. Se elas me pusessem irresistível, eu deixaria de odiar imposturas brasileiras (e a essa humanidade tão baixa que somos agora). A que nível tão impoluto e desmoralizado chega-se um povo. Meus escritos noturnos do pântano são arte? É que gosto mais quando me exibam os hímens devorados da poesia. E nas entrelinhas dessa confissão entredentes exponho-me conforme impredestinei no livro Hímen de Mallarmé, intransitivamente.

Ah, creio sobretudo sobre todas as coisas açoitadas ou acionadas pelos indizíveis músculos da alma poética. Coisas só entrevistas num baito pesadelo branco.

Se não mais sirvo à Natureza, poesia para quê?

Acho que hoje vendo a alma por um dólar qualquer furado.

Se eu fosse mais vulgar, meu ódio pelas coisas seria maior.

Quando me sinto dividido, o silêncio foge, a multidão chega, começo a escatologar impulsivamente. E a página do poema aparenta um tolete qualquer. Dólar de carne.

A pudicícia congela, o cio enleva e... sugo, mordo, apalpo, ingiro pudins intestinais voraginosos. Uma constipação discursiva me arrebata. A caneta é o fino laxante que enfio. Chuva torrencial de cocôs amarelos chega. Cenoura catingosa. Vômito cartaginês.

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Murilo Gun

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