“As sequências linguísticas são rebeldes”.
Esquecem “os poetas de salão” moderno que a linguagem é a mais artificial e, por isso mesmo, a mais humana de todas as criações do homem. E a mais divina.
Se Deus criou o homem, Ele não criou a linguagem: é invenção humana (não divina). (Fiat lux é prosa).
Se há algum limite ao processamento da informação de que seja capaz o homem, a poesia absoluta extrapola tais. Desborda. Isso em Rogério Generoso, verbi gratia, é tão nítido como o ar. Simplesmente, a PA liberta a porta do poeta desses entraves (barreiras represando o imaginário, esse capital único) quase físicos, como a rima.
À estrutura livre da linguagem não cabem tais limitações, jaulas da imaginação.
Poesia absoluta não é questão de fisiologia (ou inspiração, o que é pior).
O que alguém não possa dizer, não diga. Mas o poeta pode dizê-lo sempre. Dizer o indizível, o absoluto (nunca o relativo dizível ou risível). E diga-lo em termos, precisos termos, metafóricos. Exatamente.
A economia linguística (de que sou atento pesquisador, há 13 anos) demonstra que as soluções exatas dos “causos” líricos são inexatas e levam a palavra à falência.
E não está nunca ao alcance de não-poetas ou poetas não, miseravelmente relativos (elementares).
A tese da artificialidade da linguagem (que é próprio da PA) diz que os limites tributados à linguagem são meramente transponíveis. Pois, além desses óbices todos, situa-se, está a poesia Absoluta (a gargalhar das relatividades comezinhas).
Entre tais limites, situa-se a doença (ou grave infecção) sintática, que é mortal à poesia.
O exprimível não é possível, embora o possível seja exprimível.
Os limites da PA são os mesmos da representação interna da experiência.
“Poetas”, ante tais óbices, voltam-se a processos fáceis, a milenares regras de metrificação, atam-se a toda parafernália da versificação, submissos à dominação da rima e da trena, capatazes do atraso poético brasileiro. Amém!
De rima, rima e conta, conta, se vive.
Leitor frágil “adere” (adesista que é) a respostas do poema boas ou a “poemas” fáceis, bem arrumadinhos de rima, ordenados segundo a sagrada regra versificativa, o que acontece em 96,8% dos casos. Tais leitores detestam inacessibilidades, “poeta difícil” ou essa coisa dura de entender. E que o faz suar, em longas bicas, rosto (e alma) afora. É como se eles (os leitores fáceis) fossem deficientes. Ou melhor, a deficiência não está no poema absoluto, porém no leitor relativo.
Em síntese, a linguagem é um artifício complexo, que Homero concedeu ao homem, em forma poética, para libertá-lo, tal como Prometeu o fez, concedendo-nos o fogo. É uma película invisível ao olhar. Daí, que o olho não entende, só lê.
Cuide-se leitor frágil ante maré montada da Poesia Absoluta, que o levará ao rés de si mesmo.
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