A involução da linguagem (como o vemos hoje) dá-se quando ela passa do mais metafórico (mais poético) para o menos metafórico (menos poético).
Quanto mais direta a linguagem, menos poética. Mas animália, comerciária, superficiária, univocária, pobre, usurária. Quanto mais equívoca, mais rica, profunda, humana.
Nietzsche usou, antes de Freud – e o influiu, os conceitos de consciência e inconsciente. O primeiro era representado por Apolo, o perfeito, limpo, derivado, acabado, luminoso; a claridade, a medida, o revelado, denotativo, direto, mensageiro da forma sem segredos, sagrado. O segundo (Dioniso), a força amorfa, indefinível, o pujante instinto, primitivo, primário (jamais derivado), variável, metamorfósico (como a poesia). É o campo do inconsciente. De algo cuja origem foi perdida. E urge achá-lo, via escavação do id pela poesia. Eis a busca do significado originário, do significante, do FIAT. A utilização incomum das palavras. Artística. Vital. Poética. De poiesis, criar, fazer o novo.
Do prélio titânico da physis (o consciente corporalmente, somaticamente considerado), ou natureza, e do logos, a linguagem, advém a essência humana (que é poética, criativa).
Por trás das palavras (significantes), há significados (e interesses) inconscientes, que só a poesia há de expor à realidade. A consciência apenas as usa (essas palavras, a nível de denotação e comunicação negocial com a realidade apenas aparente isto é, real). Usa-as como meio, não como fim. Como meio de troca de dados com a realidade, não como meio de uso do espírito.
A sociedade maquinizada, automatizada, digitalizada (de hoje), sociedade mais virtual do que real; a civilização movida a bits (de agora), serva do satélite eteízada, perdeu o contato com a origem da linguagem, perdeu o FIAT, vive do LUX (e de debêntures luminosas).
O algo inconsciente perdido, há-se de alcançá-lo – e expressá-lo humanamente.
Síntese: Primeiro foi o ID, depois a linguagem. Primeiro foi o ID de Deus, depois a consciência do homem desse divo id.
Por fim, urge desautonomizar o poema, ditado pelo ego (látrico) poeta sob férreo ditame da rima e da trena.
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