A crise política no Brasil estava sendo adiada. Estourou, não. Começou a estourar. E não é econômica ou social. Ambos os setores vão bem, obrigado. É de representação política. O nosso parlamento (nos três níveis) é elitista e corrupto. Viciado em propina, nepotismo, favorecimento (tal como o judiciário, que não fica nada atrás – e é sobretudo corporativo, preguiçoso, soberbo e falido – veja a expressão, traje , poses retóricas e rapapés dos desembargadores e ministros (em especial, do Supremo). O executivo, os cinco mil e tantos prefeitos e governadores despedem mais de 50% das receitas em obras, licitações e investimentos duvidosos, correndo por fora a corrupção mais medonha, através de operadores (secretários e servidores graduados).
O movimento PASSELIVRE já existia há mais de 5 anos. Havia passeatas anuais em Recife, São Paulo e outros. As de 2013 foram a gota d’água. A classe média, a sociedade civil organizada, a família, os vândalos, todos aderiram. E com força. É um composto de marcha pela família, Direitas já, Carapintadas e comunidades. Não há participação de partidos políticos porque é exatamente contra eles. E é algo sério, forte, invencível. Decisivo.
O Brasil tem o segundo parlamento mais caro do mundo. Cada representante político do povo, em Brasília recebe por mês cem a cento e cinquenta mil. Além de outras mordomias e graciotas inúmeras.
São políticos profissionais, alguns (a maioria) estão lá há 10, 20, 30 anos – e não vão sair. Só o voto da morte os tira de lá. São (ou se sentem) autônomos. O compromisso com o povo cessa após o voto.
É uma classe viciada desde o Golpe Militar , quando os que teimaram em representar o povo foram cassados ou escorraçados (cassação, voto vinculado, pressão, prisão, etc). Desde 1964, esses caras estão lá (no palácio dos tais poderes), porque o lugar é deles – chegam por voto viciado ou não, comprado ou não... e se rejubilam. E se eternizam. O simulacro da representação segue firme. Acostumaram-se a representar o poder (militar) e depois o poder empresarial (e sem pudor). A coisa é tal que se gastam milhões, numa eleição parlamentar (deputado federal ou senador) e tudo é financiado por empresários fortes (que estão investindo e bem).
O deputado ou o senador brasileiro, no exercício do mandato, representam não o eleitor, mas o financiador. E isso fica claro, logo. A tal ponto de não sabermos em quem votamos na última eleição. E nada reivindicamos. Reforma política (desse estado de coisas) há 20 anos está travada. E bote mais de 30 nisso, se não fosse...
A rebelião política espontânea (isto é, autônoma), sem partido. Não sem direção ou rumo, como dizem. Por não ter partido no comando. Pode não ter pauta clara, está em formação, porém é meio que instintiva. Todos nós sabemos o que queremos. Não? Pode ser difusa a reinvindicação e o significado. Mas o rumo é certo, tem. É a representação política direta, via passeatas, via internet.
O estado brasileiro como poder político legítimo falhou. Revelou-se sem pudor. E poder político corrupto, privado. O parlamento brasileiro é algo separado da essência da democracia. Estranho ao povo. Que não legisla. Quando é imprescindível o judiciário o faz. Ou o executivo, via Medida Provisória.
A indagação: como suprir essa lacuna, essa impropriedade, esse desvio de função do poder legislativo? Não se sabe. Enquanto isso as multidões nas ruas vão tomar o poder. E em assim fazendo, outra forma de assembleia vai “instituir” nova forma de legislar e fazer funcionar o poder popular. Ou seja, a Assembleia Nacional vai funcionar. Sob estigmas da rua. Até onde Deus quiser!
NOTA: Em artigo para o jornal O Monitor (de que sou editor) preguei o Parlamento Virtual (com um mínimo de um milhão de parlamentares – povo, diretamente representando-se, em que a urna é o Fecebook, votação que não precisa ser fiscalizada pela Justiça Eleitoral vigente e institucionalizada tão expansivamente (isto é, “expansive”). Afora eventual duplicação de voto, alguém poria em dúvida a ética do contador do Facebook? Então, além de apreciar, em parcos minutos – ou segundos, projetos em circulação no “Parlamento legal (?) brasileiro, antecipando, com a velocidade da luz, quase, o resultado da consulta popular do mesmo projeto de lei que leve “anos” a tramitar. Igualmente, o Parlamento Virtual apreciaria e votaria instantaneamente “referendos”. No caso, no súbito, referendaria – mediante o processo Facebook de eficaz sufrágio e mais eficaz ainda apuração dos votos, a escandalosa votação do tal “Senado”, quando, movido ainda por interesses pessoais (de 16 pessoas, senadores-suplentes sem votos), foi derrotada por 3 votos o mais possível ético, necessário, irrecusável projeto de mudança (não eliminação) do vergonhoso status de suplente de senador.
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