O ser, raramente dado sempre conquistado
aterra CIORAN, merece a honra de uma
maiúscula... não por sua máscula
musculatura filosófica, mas por ser
perseguido por PERSE, como o foi
- e é - por HOLDERLIN.
Começa assim o ensaio de Cioran
donde extraí: Na poesia de Perse, há
sempre surpresas e frequentes sensações
do instantâneo permanente. "E
subitamente tudo é, para mim, força
e presença - não impotência e ausência -
onde arde ainda o tema do nada". O
próprio mar, como ovação súbita... e
óvulo da água, derrama-se na página.
Da ovação branca e espumosa
vem a onda intranscendente da
palavra, o súbito ovário do verbo
aberto em vertigem perfeita, a total
transfiguração do inanimado ainda
a vitória do pleno e do aberto sobre
o vazio azul ou sobre o azul vazio.
O aborto adiado.
Perse - Chanceler da França por vários
anos - amigo de Daj Hamatshose da ONU -
renunciou ao supremo cargo por oposição
valente ao nazismo... e exilou-se nos
USA, passando a explorar as pedras e os
líquens das Montanhas Rochosas, donde
extraiu poesia sem limites. Assim,
reconciliou-se com o mundo,
enraizando-se profundamente nele, com
as plenas credenciais que só a poesia (ou plena)
concede.
Em PERSE (que li por anos...
e voltei a ler por 3 meses exclusivos) cada
palavra é debruçada sobre a coisa, sobre
o objeto do mundo de que se apropria
o homem para conhecê-lo (ao objeto
e ao mundo) e para transcendê-lo.
É à exaltação da palavra, à plena
elevação do verbo além do homem que
Perse dedica a poesia.
Hino cintilante à diversidade do
ser e das coisas, ladaínha ao uno
ode ao fogo que dá vida ao oco - que
é o homem - salmo à sílaba e ao
verso inverso, canto à ebriedade
originária dos elementos é
a poesia perse, francamente hermética,
sublimemente poética.
De uma sílaba celeste à prece
cósmica imprecisa e soberba, Perse
ergue súbita prédica lírica à cidade
moderna: esse gólgota de lixo e útero abatido
de dura ferragem... recurso irônico
à terminologia cristã desse insuperável
pagão, soletra Cioran.