Sou áspero, duro, infinito como o cacto
lixa árida, graveto cônico, árduo e cavo tronco
sou rural e a canção da vaca tange a minha rede
solitário e plano como caatinga ou orvalho
bando de garças descuidado desvairado ombro acolhe
sou ser entranhado na manhã e noturno
sou silêncio, tempestade e voz de pedra surda
luz do cardo ilumina-me a mão
a bordo da alba sigo
velejando por estrela de greda
da órbita branca inóspita de vândalo gado
entre carcaças das vacas do sertão e silêncio do olho.
Os ossos do futuro vejo
e a verdade pétrea fincados
na geometria dos búzios do capim
clavículas de pássaros vejo (o esqueleto do voo abro)
junto à abóbada dos crânios
que estrela crestou.
Da varanda infinita de minha de minha choça toco
as ventas surdas do universo
e os chifres de boi do tempo
domo com a mão
e o olhar pétreo da lua tropical finco
com esmero ótico
e elegância nua.