Do limiar de pássaro projeto
meu vou ao Averno
minha lídima vinda do rosto acordo
enquanto manhã agoniza os olhos
sobre monetário tratado debruço
horizontes do futuro
para que bebam moeda do destino
anfractuoso do mundo
e sina que é serva da poesia alevante.
Por que a moeda do limbo pergunta
pelos arsenais duvidosos do purgatório
seus paiós brancos e angelicais pólvoras
dispostas na pátenas como as hóstias?
E pelos seus vômitos e elixires parabólicos?
E pelos diarreicos direitos das sombras
que esqueceram o óbolo e a língua?
O compêndio do absurdo da vida
ao lado do leite coalhado das estrelas
e dos destinos indecisos (ou indecoroso) dos homens
permanece fechado como cofre ou túmulo.
Essa equação o algebrista (persa deus)
criador de tudo do nada em vão
flanqueará ao homem sua insana solução?
Tudo o que a botânico auge almeje atiço
coivara de abelhas e gravetos animo
e o pântano do nome onde durmo cultivo
que ventre dos prados argila ilumine
mas
sonho para que verme
no escuro não rasteje
sonho o mundo desistir de ser
hospício do homem
despejo da alma.
O estrume das estrelas e estábulos ou chorume chamegante
de luz junto rente ao rosto do instante
para que o líquido espelho plasme o metano
e o eco junque sons de cadáveres. E o fluxo trave.
Para dor que violenta lírio
alma, sono, hino
para esquecidas jazidas
do sal da vida
onde átimo de seiva cavo
para adubo último do mundo
a que devoto nome
do que virá logo
ao lugar da morte que imagino
como pássaro branco em outubro
onde sílabas esculpo
luzes trituro
para robustez do ânimo.
O talento, meu abismo, o estalão
parâmetro de meu porvir de prata e dano
a viver da escavação do ego tíbio
ou da fatura de um aluvião absurdo.
Além da ração de orgasmo diário a palavra
permite ouvir a dor por si
a vir do interior tão íntimo quanto
o imo de um deus nômade
para a fonte ébria do instante, para o fim do horizonte.